#A Senhora do Cãozinho
Explore tagged Tumblr posts
Text
SÍNTESE DO RENDONDÃO
São 6:30h
O cãozinho acorda, quer passear
Bora levantar e levar ele ao Redondão
Caminhando pela viela, “Bom Dia”, “Bom Dia”, ”Oi”, “Opa”
Vira a esquina, cuidado com os carros que descem rápido
É hora de atravessar a rua por cima da lombada-faixa-de-pedestre, estilo romano
Vem vindo 4 carros, os três primeiros passam reto, em alta velocidade, sem se sensibilizar com o cãozinho fofo que deseja realizar as suas necessidades fisiológicas nas plantinhas
Já o quarto carro, para, sorri e acena para passarmos, vamos até meio sem jeito, afinal,
depois de esperar 3 carros, o que custava esperar mais um?
Chegamos! Mas atenção às regras!
O Redondão é composto por 3 círculos, um dentro do outro, que são áreas específicas, cada uma com o seu uso/função
A área central é a de permanência, utilizada por mulheres pela manhã que se juntam para fazer aulas de iôga, alongamento e outras atividades lúdicas e mais tarde, para as crianças brincarem de bola e soltar pipa quando voltam da escola e também grupos de capoeira
A segunda área, que seria a do meio, serve para relaxar, passear com os animais e crianças, botar a fofoca em dia na vizinhança e falar mais “Bom Dia” pra quem passar por lá
E a última, que é a maior área de todas, que contorna o extremo desse círculo, é a pista dos atletas e dos apressados
A grande maioria segue sua caminhada ou corrida no mesmo sentido
Mas tem os do-contras que andam na contramão, o que é um pouco incômodo ás vezes, afinal, é necessário ficar desviando
Cachorros podem caminhar lá também, mas precisam estar focados e seguir o fluxo pra não atrapalhar os atletas
Ah! No Redondão, não existe “senhor” ou “senhora”, são todos “você”, independente da idade, sujeito a ofensas e/ou cara feia, pois isso é considerado um insulto por lá
Tem um senhor...ops! um homem, que vai pra lá com sua bicicleta azul e a estaciona na área 2, que é a mais tranquila, pra vender pão que ele mesmo faz, vende muito bem, pois fica bem na fronteira da área 3, aí passa bastante gente. Ele é do Rio Grande do Norte e sempre grita: “Bom dia minha conterrânea!” (meus avós são de lá)
Bom diaaa!
O cão começa enfim as suas atividades
É necessário marcar seu território estrategicamente, ele cheira bem cada canto com muita cautela e precisão, pois existem muitos outros cães por lá, qualquer erro, pode ser fatal (na visão do cão, claro!), é uma tarefa muito importante pra ele, precisa ter paciência
Ele avistou um cachorro gigante, também conhecido como cavalo, que estava pelo jardim que está entre a área 3 e a rua. Ele estava comendo a grama. Meu cão não gostou muito da presença dele e quis enfrentá-lo, certamente não o queria ali pois aquele local era dele e ele não estava respeitando a área previamente demarcada. O cavalo só olhou de canto de olho e começou a levantar a pata traseira, se preparando para o coice
Peguei meu vira-lata-poodle no colo para ele se acalmar e o levei em outro canto pra ver outras coisas, ele encontrou outro cãozinho, foi com a cara dele e começou aquela “cheiração”, aí ele esqueceu do cavalo
Mais pra frente, tem a área dos equipamentos de ginástica, localizado na lateral da área 3, do lado da rua. Sempre lotado, conta com um bom guarda-volumes, que é uma pitangueira, onde todos colocam seus pertences em saquinhos plástico pendurados nos galhos e as vezes aproveitam e pegam uma pitanga, vitamina C pura, direto da fonte
As mulheres se revezam entre todos os equipamentos, já os homens, utilizam um em especial, que faz um movimento um pouco malicioso para fazer abdominal, acho que estão treinando para mais tarde, ou, para algum dia, quem sabe
E na outra ponta desse jardim, fica o “João” com seu cachorro fiel, o Boy, que ele diz que não é boiola, que é um cão bem macho (Bom, como falei, ele não é um senhor pois não tem senhores no Redondão mas digamos que tenha uma certa idade para fazer esse tipo de comentário). Muitas vezes eles ficam instalados ali debaixo de uma palmeira.
Muita gente leva ração para o Boy e comidas e roupas para o “João”. Ele diz que era pintor, que tinha a própria empresa com seus funcionários e trabalhava para os grandes, que gostaria de retomar suas atividades mas que tem muitas dores nas costas por conta de um bico-de-papagaio. Ele disse que iria dar uma volta pra tomar um suco. Atravessou a rua e foi pro bar. Aí me dei conta que o suco na verdade era cana
No jardim entre as áreas 2 e 3, tem uma mulher sentada no chão faz muito tempo, meio que olhando pra nada, embaixo de uma árvore cerejeira, que acabara de dar flores (espetáculo incrível!)
O padeiro da bicicleta azul fica preocupado pois nunca a viu quieta desse jeito, pede para ir lá falar com ela pois ele tinha vergonha de falar sobre assuntos mais emotivos, prefere deixar que as mulheres se entendam. Ele já a ajudou uma vez que o carro dela quebrou e precisou fazer pegar no tranco, ou seja, se fosse um serviço “de homem”, ele ajudaria novamente
Ela está bem
Estava apenas montando um cenário artístico com as pétalas da flor de cerejeira em forma de um coração para depois fotografar a imagem, só que sempre que terminava, o vento levava tudo e ela tinha que reconstrui-lo novamente, estava bastante paciente e empenhada para realizar a tarefa
Ela pede para eu me sentar e, como psicóloga, acabou me fazendo uma consulta grátis conversando sobre a vida, a importância de relaxar, apreciar o momento e fazer aquilo que realmente gostamos. Colocou ainda pra gente escutar de olhos fechados, a música “Vilarejo” da Marisa Monte. Nos abraçamos e segui o percurso
Não sei quantos tipos de passarinhos tem ali, mas são muitos e sempre tem alguns voando pelas nossas cabeças, por sorte, nunca aconteceu nenhum acidente aéreo! Eu acredito que eles são educados e respeitam o espaço compartilhado, diferente de outros seres que passam por ali, maaas....deixa isso pra lá!
Do nada apareceram mais 2 cavalos correndo na rua, e o que estava se alimentando no jardim os viu e foi correndo atrás deles
Os cavalos agora foram embora
Não sei pra onde
São 07:20h e o trânsito da área 3, está intenso, chegam muitos atletas nesse horário para se exercitar, acho que já deixaram as crianças na escola
Começa a ficar difícil para andar com o cãozinho lá
Melhor irmos pra área 2
Essa área é mais calma
Caminhamos bastante, devagar, olhando as flores que vão se abrindo uma a uma e as que ainda estão para abrir, de todas as cores, formas, cheiros e tamanhos
São lindas demais, não é a toa que lá está cheio de passarinhos e borboletas
Acho que meu cãozinho também gosta de flores pois marcou território em todas elas (ou pelo menos, tentou, já que não tinha mais nada em seu reservatório, somente fazia um xixi psicológico)
Fez o número 2 também! É necessário recolher com um saquinho e jogar na lixeira
Pronto!
Vamos pra casa Bunny!?
2 notes
·
View notes
Text
“Rotas com História: Viagens na nossa Terra”
Santa Justa
No âmbito do projeto DAC das turmas do 7º ano “Rotas com História – Viagens na nossa Terra”, as turmas B, D e E realizaram a visita de estudo “Roteiro das Freguesias”, no dia no dia 23 de novembro de 2022, com o apoio da Câmara Municipal de Coruche. A visita teve início às 9h00 da manhã na Igreja de Nossa Senhora do Castelo onde nos encontrámos com o nosso guia, Dr. Aníbal Mendes, da Câmara Municipal de Coruche. Tirámos várias fotos e, de seguida, fomos de autocarro para Santa Justa, no Couço, onde começa o Rio Sorraia, proveniente da Ribeira de Raia e de Sor. Depois dirigimo-nos para a Lamarosa. Estivemos na Casa da Cultura, onde aproveitámos para lanchar. De seguida fomos visitar a Igreja de Nossa Senhora do Vale, na Erra. Como já estava na hora de almoçar, fomos para o Núcleo Rural de Coruche (antigo quartel dos bombeiros), onde almoçámos e tivemos a oportunidade de ver a exposição. Quando acabou a hora de almoço, fomos até Santana do Mato ver os fornos de carvão, mas como estava a chover e estava muito fumo, não saímos do autocarro. Fomos para o Observatório do Sobreiro e da Cortiça, onde o senhor Carlos Abreu nos apresentou a exposição da Cortiça e os materiais que podemos fazer com esta matéria prima. Para terminar, fomos para o auditório, onde nos fizeram várias questões (Quizz), quem respondeu primeiro e bem, recebeu um prémio (puzzle). Realizamos esta aventura com a turma do 7.ºE, acompanhados das professoras Teresa Nunes (Diretora de turma do 7.ºD), Ana Relvas (Diretora de turma do 7.ºE) e Ana Serôdio (professora de Educação Física).
Ana Dores, Carolina Bento, Débora Ribeiro, Inês Valério, Leonor Valério do 7.ºD.
Casa da Cultura, Lamarosa
Igreja de Nossa Senhora do Vale, Erra
Observatório da Cortiça
Começámos por ir visitar o Castelo da Nossa Senhora em Coruche e ver a vista - a vila de Coruche. Em seguida fomos à Lamarosa ver projetos em cortiça e desenhos feitos por crianças da terra Lamarosa. Também vimos ovelhas e cabras a pastar. Depois, fomos à Erra ver a igreja por dentro e os azulejos na parede e, claro, um cãozinho fofo que lá estava. Para finalizar, fomos ver o Observatório do Sobreiro e da Cortiça em Coruche. A parte que eu mais gostei de ver foi o que se pode fazer com a cortiça e também ver o Observatório que tem as paredes também em cortiça Adriana Pires, 7.ºE
A visita de estudo foi boa, mas teria sido melhor se não estivesse a chover. Gostámos da visita de estudo porque houve muita interação com o guia (Dr. Aníbal Mendes). O sítio que nós gostamos mais de visitar foi o Laboratório da Cortiça, porque ficámos a conhecer diversos animais, a história da cortiça e no final houve um concurso (Quizz). Carolina, Inês, Débora, 7.ºD
A visita de estudo foi boa, o único ponto negativo era estar mau tempo (chuva). Onde nós gostamos mais de ir, foi ao Observatório do Sobreiro e da Cortiça. Achámos muito interessante pelo facto de se poder fazer tantas coisas com a Cortiça. Mas também gostamos muito das outras atividades, uma delas foi a hora de almoço no Núcleo Rural. Ana Dores e Leonor Valério, 7.ºD
A visita de estudo foi boa, gostámos de sair da escola e não ter aulas nesse dia.António e Márcia - 7ºDEu gostei muito da visita de estudo porque conheci lugares novos. Adorei visitar o coreto da Lamarosa e o Observatório da cortiça. Gostei muito de conhecer o senhor Aníbal e a sua palestra. Gostei também de recordar o Núcleo Rural. Clara Tadeia, 7.ºE
0 notes
Photo
De noite
“- Que estúpido e enervante é isto tudo - pensou ao acordar e ao olhar para as janelas escuras; era já noite.- Dormi tanto para quê? E agora, o que vou fazer toda a noite?”
Anton Tchekhov, “A Senhora do Cãozinho”; pintura de Maria Yakunchikova-Weber.
29 notes
·
View notes
Text
Querido diário - (coisas de dezembro) É dezembro!
Querido diário. É dezembro, e assim como o próximo ano, o natal também está próximo.
Essa é a minha época do ano favorita. Eu não sei o que acontece, mas tudo parece muito mais puro e doce perto do natal. As ruas ficam enfeitadas e iluminadas, até parece magia!
Decidi vir conversar com você, pois esses dias têm sido cheios... vamos começar pelo fato de que eu ainda não sei oque fazer da minha vida, mas decidi que vou começar por fazer faculdade de medicina veterinária. (Vou explicar depois)
Tenho outra coisa pra contar, mas isso não é algo bom...essa semana algo muito triste aconteceu, não foi comigo foi com um cachorrinho, ele foi brutalmente assassinado em um estado perto do meu. Eu fiquei tão triste porque eu nem consigo imaginar o côco é uma pessoa pode ser pra machucar um ser tão indefeso e tão inocente! eu vou confessar algo pra você, eu chorei bastante por isso.
Só que não foi tão somente pela crueldade ou pela morte do animalzinho, foi pela hipocrisia das pessoas, apesar desse situação você é muito triste lamentável mas pode ser hipócrita. O cachorro estava ABANDONADO! O que de forma alguma justifica agressão gás disso deixou a mercê da maldade do mundo. Muitas pessoas que agora lamentou a morte desse animal tiveram a oportunidade de anotar aí cuidar dele e evitar esse fim trágico que ele teve.
Estou muito cômodo ser politicamente correto e amar um cachorro depois de tudo de ruim já aconteceu com ele!
Então alguém olhou pra mim e disse "mas esse caso é questão de empatia" Ora faça-me o favor! Que tipo de empatia seletiva é essa?
"Corre vou sentir empatia pelo cachorro que morreu, mas esse cachorro abandonado está vivo, então ele não merece um grau de empatia tão grande quanto o outro"
Eu acredito que é nosso dever proteger os animais, porque assim como nós eles não pediram pra nascer! Mas se nascem aos montes nas ruas, somos nós seres humanos os culpados por abandoná-los, por engana-los com um falso amor que não dura mais que o tempo de satisfação dos nossos caprichos! não nos importamos com o fato deles serem totalmente dependentes de nós não importa a idade que eles tenham.
Sabe diário eu não sou tipo de pessoa que faz a seleção ou usar aquela frase pronta do tipo "óh eu gosto muito mais de animais e que dos seres humanos". Não, eu gosto de todos, mas sei diferenciar quem precisa mais de mim quem precisa mais dos seres humanos. Eu sinto muito pela aquele cachorrinho eu gostaria de ter sido a pessoa que deu carinho pra ele, de ser a pessoa que o adotou o livrou desse trágico fim.
Pelo que sei o que aconteceu porque a segurança de um grande supermercado bateu no cachorro pauladas até a morte, Deus eu não sei...não consigo imaginar alguém com tamanha crueldade dentro do coração!
Tudo que eu mais quero é que a justiça seja feita e que este homem pague pelo crime que ele cometeu.
Mas sabe querido diário, O que é mais bonito e mais triste, é que se aquele cachorro estivesse vivo ele certamente iria ter esquecido e perdoado daquele homem. Porque animais são inocentes, eles são puros. Muitas vezes eu queria ser dona de uma inocência e pureza tão grande assim.
Eu espero que aquele cãozinho agora esteja descansando em paz, porque eu imagino que ele já tenha sofrido muito aqui nessa terra, e agora ele finalmente pode ter paz.
Quanto aos seres humanos...mesmo não acreditando que isso vai acabar de uma hora pra outra, eu espero que o abandono de animais se torne cada vez menos frequente. Espero que as pessoas parem de vir na internet tão somente para fazer textos para senhora te mostrar seu amor e carinho na vida real, onde essas coisas realmente são precisas.
2 notes
·
View notes
Text
Calçada das flores amarelas
Há segundos da minha casa morava uma senhora de oitenta e poucos anos, miúda e de voz fraca. Uma casa grande para um ser tão frágil e pequeno. Ela gostava de mim, apesar de não me enxergar ou me ouvir com precisão.
Nos meus passeios diários com meu cachorro, eu parava em frente à casa - que fica a uma casa de distância da minha - onde a senhora sentava com uma cachorrinha frágil e pequena, assim como ela, sempre cheirosa e que fazia festa ao ver meu vira-lata desengonçado. Já ouvi dizer que o cãozinho tem a personalidade do dono, se for verdade, aquele era o caso.
Morando há mais de dez anos no mesmo lugar, eu só fui me dar conta dessa vizinha por alguns meses, infelizmente os últimos da vida dela. Mesmo assim, eu só soube que ela tinha morrido semanas depois, o que me fez sentir uma estranha culpa por ter pessoas simplesmente não tão importantes na minha vida.
Ela tinha uma filha que morava a poucas ruas dali. Um neto que era bombeiro. Uma irmã que fazia a função de cuidadora e que sempre conversava comigo de forma mais vital, já que a senhorinha mesmo não entendia muita coisa do que eu dizia.
Em alguma noite pacata, voltando do trabalho pela noite e dirigindo no modo automático, desviei o olhar por segundos para a capela mortuária do meu bairro. Estava cheia. Lembro de ter falado em voz alta um pensamento frio, cômico e mórbido, afirmando que alguém bateu as botas. Chegando em casa, eu já tinha esquecido.
Na época eu não relacionei, mas a casa, onde na calçada existe uma árvore com flores amarelas bem fortes, esteve vazia. Não tinha senhorinha na varanda. Mas não me importei. Afinal de contas, eram irrelevantes aqueles minutos durante o passeio com o cachorro.
A árvore secou. Ninguém regava as plantas. A casa virou armazém de poeira. O tempo ficou cada vez mais seco. Sem querer, encontrei a filha dessa senhora pela rua. Perguntei, inocentemente, onde estava a mãe. Recebi a resposta mais óbvia possível, me deixando com um silêncio e um poço de falta de sensibilidade que me assombrou por alguns dias.
Escrevo agora porque a primavera chegou e a árvore está mais florida que nunca. Uma quase imperceptível sensação de felicidade tomou conta do meu rosto e um leve sorriso escapou enquanto eu estava na rua, com meu cachorro, em frente a tal casa, como eu faço todos os dias.
Continuo sem saber o nome dela, qual fim foi dado a sua cachorrinha ou por que ela morreu. Porém, existe uma pitada de sentimento bom ao me lembrar desses minutos compartilhados na casa onde na calçada existem flores amarelas.
1 note
·
View note
Text
Day 3 - A memory
Bom, esse é difícil. Ainda estou aprendendo a lembrar das coisas boas da minha vida, que foram de alguma forma bloqueadas. Lembro muito mais de coisas ruins, medos e incertezas. Hoje finalmente estou assegurando criar memórias boas para o futuro. Mas vou contar uma coisa fofa que aconteceu:
Meu cachorrinho Mickey infelizmente faleceu, não soubemos exatamente a causa, na época eu não tinha recursos para levar ele a um veterinário. Havíamos saído por um final de semana e quando voltamos ele estava abatido, meu pai comprou alguns remédios em uma loja de rações e eu sinceramente não gostei nada da situação, mas como disse eu não tinha recursos. Em uns dois dias ele faleceu. Lembro de colocá-lo em uma caixinha e cobrir com um paninho, dar beijinhos de boa noite e conversar com ele. No dia seguinte ao abrir os olhos a primeira coisa que pensei foi em ir correndo ver como ele estava, mas infelizmente ele já não estava mais ali. Meu pai havia levado seu corpinho embora. Eu tinha outra cachorrinha, a Tuca, que ficou sozinha agora. Ambos ficavam no pátio, fora de casa, não eram permitidos entrar em casa. Na época eu havia recém começado a trabalhar e resolvi que iria adotar mais um cachorrinho para fazer companhia à Tuca, pois eu sempre ouvi minha mãe dizendo que cachorrinhos podiam morrer de solidão quando perdiam um parceirinho. E eu com certeza não queria que nenhum mal ocorresse à Tuca. Entrei em grupos de adoção de animais no facebook e em poucos dias encontrei uma postagem com alguns filhotinhos para adoção. Eram cinco cachorrinhos, três branquinhos e dois pretinhos. O Alessandro estava tão feliz quanto eu e então fomos buscar nosso nosso cãozinho. Foi uma viagem, a casa era praticamente em um precipício em um bairro bem afastado e longe de onde morava. No meio do caminho sentimos um pequeno arrependimento de estar indo tão longe porque as ruas davam um pouco de medo, parecia um lugar perigoso de estar sem conhecer. Mas chegando lá, fomos apresentados ao cachorrinhos. Havia crianças na casa que conheciam bem cada filhotinho, e a senhora com quem havia conversado disse que iam se mudar e não iam poder levar nenhum dos cachorros, inclusive a mãezinha deles, uma vira lata baixinha que havia pulado a cerca com um chow chow do vizinho. Não sei o que aconteceu com os cachorrinhos, desejo em meu coração que estejam todos bem. Mas vamos lá à minha memória: Quando os cachorrinhos foram soltos, quatro deles estavam correndo e brincando com muita energia, mas um deles, apenas um deles veio do meu lado e sentou, descansando sua cabecinha no meu pé esquerdo. Naquele momento eu quase chorei, não havia dúvidas de que eu havia sido escolhida por ele. Foi um momento que eu nunca vou esquecer. Lembro de olhar pro Alessandro e ver o sorriso dele vendo aquilo. Os outros cachorrinhos todos eram um pouquinho diferentes, com a mandíbula um pouquinho maior, o que me escolheu era o de traços mais delicados e o mais quietinho e tímido. Meu Snow. Sempre sempre ao meu lado, não desgruda de mim um segundo. Quando fui morar em um casa separado dos meus pais a primeira coisa que fiz foi levá-lo comigo. Infelizmente a Tuca já não estava mais conosco para que eu pudesse deixá-la subir em cima da cama, mas talvez em outra vida.
Essa é uma das minha memórias que vale a pena relembrar.
0 notes
Text
RJPET promove campanha para a adoção de animais em Ipanema
RJPET promove campanha para a adoção de animais em Ipanema
Evento acontece neste sábado na Praça Nossa Senhora da Paz. Cãozinho ‘participante’ da última feira de adoção do RJPET Divulgação A feira de adoção RJPET acontece pela primeira em Ipanema, Zona Sul carioca, neste sábado (18). O evento acontece das 13h às 17h na Praça Nossa Senhora da Paz, e é uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e…
View On WordPress
0 notes
Text
Roger Scruton: biografia, livros, filosofia, ideias e frases. 11/07/2019.
O mais importante pensador conservador contemporâneo, um dos maiores filósofos ingleses em atividade, cavaleiro da Ordem do Império Britânico, autor de mais de 50 livros, compositor de óperas, crítico cultural: Sir Roger Scruton é tudo isso e ainda mais!
Neste post você conferirá a biografia, as ideias, os posicionamentos políticos, algumas das frases e os principais livros desse erudito que é incontornável às discussões de nosso tempo.
Ao conhecer a vida e as opiniões de Roger Scruton o que é conservadorismo ficará claro como nunca antes. Tanto a história como os textos desse gigante ilustram exemplarmente a essência dessa tradição intelectual.
Mas aí está apenas uma das muitas facetas dessa figura complexa. Ao falar de Roger Scruton beleza tem de ser o assunto principal: a natureza, a importância e a realidade desse conceito formam o cerne de suas preocupações teóricas.
Quer encarar esse encantador percurso intelectual? Então continue a leitura deste texto e, ao fim, conheça você mesmo os mais importantes livros de Roger Scruton.
Não deixe de conferir!
Quem é Roger Scruton e o que ele defende?
Sir Roger Scruton é um dos mais importantes filósofos britânicos da atualidade, além de crítico cultural e polemista que é reconhecido ao redor do mundo como a mais expressiva voz contemporânea do conservadorismo.
Ele é cavaleiro-comendador da Ordem do Império Britânico, tendo sido condecorado em 2016 pela Rainha Elizabeth II. Além disso, integra a Royal Society of Literature, a British Academy e a European Academy of Arts and Sciences.
Atualmente é professor da Universidade de Buckingham e pesquisador do Ethics and Public Policy Center (Washington, D.C.). Antes disso lecionou por mais de vinte anos na Universidade de Londres; deu aulas também em Princeton, Oxford, Boston e St. Andrews, além de ter sido professor-visitante em Stanford e em Louvain.
Roger Scruton presidiu entre novembro de 2018 e abril de 2019 a Government Commission on Building Better, Building Beautiful, comitê apontado pelo governo do Reino Unido para a revitalização arquitetônica de suas cidades. A estética – especialmente arquitetura e música – é a especialidade acadêmica de Roger Scruton.
O filósofo é também compositor de duas óperas e autor de alguns contos e poemas esparsos. Sua obra publicada abrange mais de 50 livros, a maioria sendo de ensaios filosóficos ou políticos, mas incluindo também cerca de 10 títulos de ficção.
Um de seus escritos, Beleza, originou o documentário Por Que a Beleza Importa?, apresentado por ele mesmo, em 2009, na BBC Two:
Na imprensa, Roger Scruton tem atuado como comentarista na BBC Radio 4 e como articulista em The American Spectator, The Times, The Spectator, The Wall Street Journal, National Review, Harpers e The New Statesman – analisando em especial assuntos políticos, mas também temas de música, arquitetura e vinho.
Scruton edita The New Atlantis e compõe o comitê editorial de quatro periódicos: The Salisbury Review (que ele mesmo fundou), The British Journal of Aesthetics, Arka e openDemocracy.
Entre outros reconhecimentos que o filósofo recebeu estão a Medalha de Mérito (primeira classe) da República Tcheca e a Medalha de Ouro (pelo apoio à cultura e às artes) do Ministério Polonês de Cultura.
Para conhecer um pensador da grandeza de Roger Scruton Wikipedia não basta! Continue a leitura deste post para conhecer a história de vida, as posições filosóficas, as ideias para a política e o assunto de cada um dos mais importantes livros de Roger Scruton.
O filósofo e escritor Roger Scruton em sua casa no Reino Unido. Biografia de Roger Scruton
No dia 27 de fevereiro de 1944, em Buslingthorpe, Lincolnshire (Inglaterra), nascia Roger Vernon Scruton, filho de John “Jack” Scruton e Beryl Claris Scruton.
Seu pai, um professor originário de Manchester, era filho de Matthew Lowe, chamado por sua mãe, Margaret (bisavó de Roger e avó de Jack), como Matthew Scruton. É provável que Margaret tenha dado ao filho esse sobrenome em homenagem à Scruton Hall, da vila Scruton, condado de North Yorkshire, em que ela possivelmente trabalhou como empregada.
John, que compôs portanto a segunda geração da família assim nomeada, cresceu numa casa geminada de baixo padrão, e para sempre cultivou um amor ao campo e uma aversão às classes sociais superiores.
Sua mulher, nascida Beryl Claris Haynes, apreciava a literatura romântica, cujo ideal de vida era precisamente o que Jack desprezava. Por esta e por outras razões, Beryl e seus filhos sempre tiveram com John uma relação conturbada.
Embora criados como cristãos, os pais de Scruton declaravam-se humanistas seculares. O casal teve, além de Roger, duas filhas. A família viveu na cidade de Marlow, distrito de Wycombe, e depois na Hammersley Lane, cidade de High Wycombe – ambos os endereços no condado de Buckinghamshire. Sempre os acompanhava um cãozinho de estimação: Sam.
Roger Scruton frequentou a Royal Grammar School, em High Wycombe, de 1954 a 1962. No colégio, suas notas A iam para matemática (pura e aplicada), física e química. Nas artes, teve a má experiência de, ao montar uma peça que escrevera, causar um pequeno incêndio no palco, o que o levou a ser expulso da escola.
As boas notas lhe garantiram contudo o ingresso no Jesus College da Universidade de Cambridge, para cursar ciências naturais. Já no primeiro dia, Roger Scruton migrou para a graduação em ciências morais, como então se chamava o curso de filosofia. Nessa mesma época, John “Jack” Scruton parou de falar com seu filho.
Entre 1962 e 1965, Roger cumpriu os estudos de graduação; em 1967 obteve o título de mestre; e de 1967 a 1973 cursou, orientado por Michael Tanner e G. E. M. Anscombe, o doutorado. Em 1974 a tese doutoral foi publicada como seu primeiro livro: Arte e Imaginação – saiba mais na seção “Livros de Roger Scruton”!!!
Após se graduar em 1965, Roger Scruton passou uma temporada no exterior. Chegou a dar aulas na Universidade de Pau, na França, onde conheceu sua primeira mulher, Danielle Laffitte. Foi numa visita à casa dela, no Bairro Latino entre o quinto e o sexto distritos de Paris, próximo à Sorbonne, que Roger Scruton testemunhou os protestos estudantis de maio de 1968 – e, observando o evento, descobriu-se um conservador.
Durante o doutorado, especificamente entre 1969 e 1971, ainda vinculado ao Jesus College, Roger Scruton atuou como pesquisador na Peterhouse, também pertencente à Universidade de Cambridge.
A união com Danielle foi oficializada em 1972, e durou até 1979. Enquanto casados, ela trabalhou como professora de francês na Putney High School. O casal morava na Rua Harley, num apartamento anteriormente ocupado por uma celebridade da TV, a cozinheira Delia Smith.
Já a partir de 1971, e até 1992, Roger Scruton lecionou no Birkbeck College, da Universidade de Londres – primeiro como professor assistente (lecturer), até 1980 como professor pleno (reader), a partir de então como professor titular (professor) da área de estética.
Birkbeck é um tradicional reduto de professores de esquerda: Scruton brinca que os únicos conservadores presentes eram ele e a senhora que servia as refeições na cantina.
O Birkbeck College, da Universidade de Londres, é um tradicional reduto de professores de esquerda. Desafiando o statu quo, entre 1974 e 1975 o filósofo fundou, com os políticos Hugh Fraser e Jonathan Aitken e com o acadêmico John Casey, o Conservative Philosophy Group – que seria frequentado pelo historiador Hugh Thomas, pelo filósofo Anthony Quinton e pela futura primeira-ministra Margaret Thatcher.
Como em Birkbeck as aulas são dadas apenas à noite, Scruton aproveitou os dias para estudar direito, entre 1974 e 1976, na Inns of Court School of Law. Ele chegou a se tornar advogado (ou seja, recebeu o “call to the Bar”) em 1978, mas nunca pôde exercer o ofício, porque para isso precisaria dedicar um ano inteiro à “pupilia” (pupillage).
De 1979 a 1989, Roger Scruton ajudou a estabelecer centros acadêmicos clandestinos na Europa Central e do Leste, oferecendo a dissidentes contato com acadêmicos ocidentais.
Ele foi cofundador e sócio da Jan Hus Educational Foundation, que, ligada a professores da Universidade de Oxford, contou com a colaboração de acadêmicos tão diversos como Jacques Derrida, Charles Taylor, Jürgen Habermas, Ernest Gellner, Thomas Nagel e Anthony Kenny.
A associação atuava sob a Cortina de Ferro organizando palestras, contrabandeando livros e às vezes viabilizando que estudantes fizessem intercâmbio em Cambridge (na Faculdade de Teologia, que se dispôs a aceitar os estrangeiros). Ainda hoje ela está ativa, desempenhando outras atividades na República Tcheca e na Eslováquia.
Detido em Brno em 1985 e depois expulso da Tchecoslováquia, Roger Scruton entrou para a “Lista de Pessoas Indesejadas” do país. Essas situações são revisitadas de maneira ficcional no romance As Memórias de Underground – não deixe de conferir na seção “Livros de Roger Scruton”!!!
As Memórias de Underground é o primeiro romance de Roger Scruton publicado no Brasil. Também para a Polônia e a Hungria, Scruton cofundou e administrou o Jagiellonian Trust, sendo perseguido durante visitas a esses dois países. Para trabalhar em prol da reconciliação do povo libanês, o filósofo fundou a Anglo-Lebanese Cultural Association, ativa até 1995 e depois inviabilizada pelas ocupações síria e do Hezbollah.
Os anos 1980 foram os mais intensos da carreira de Roger Scruton como escritor. De sua autoria foram publicados treze livros de ensaio e a primeira ficção. O destaque cabe, sem dúvida, ao volume Pensadores da Nova Esquerda, cujos capítulos haviam sido publicados como artigos em The Salisbury Review. Conheça a obra na seção “Livros de Roger Scruton”!!!
Uma degustação desse volume pode ser obtida aqui. Para ler as primeiras páginas gratuitamente, é só clicar no último link!!!
Jordan Peterson posa ao lado de Roger Scruton. A revista The Salisbury Review foi fundada por Scruton em 1982 e editada por ele desde essa data até o ano 2001. Trata-se de um periódico alinhado ao conservadorismo tradicional, e surgido – embora Scruton apoiasse Margaret Thatcher – como um veículo crítico a alguns aspectos do “thatcherismo”.
Muitos textos das primeiras edições eram do próprio Roger Scruton, assinados com pseudônimos. Hoje tem entre os principais colaboradores Theodore Dalrymple. Durante as décadas recebeu artigos de Václav Havel (último presidente da Tchecoslováquia), Alexander Soljenítsin (um dos heróis literários de Jordan Peterson) e a própria Thatcher.
A publicação criticava o igualitarismo, o feminismo, a ajuda externa, o multiculturalismo, o modernismo e a campanha pelo desarmamento nuclear. Segundo o próprio Roger Scruton, essa atividade arruinou a sua carreira acadêmica na Grã-Bretanha.
Como se não bastassem três processos e dois interrogatórios, a revista lhe custou o boicote, pelo Departamento de Filosofia da Universidade de Glasgow, de uma palestra que daria em 1984 a convite da Sociedade Filosófica da mesma instituição.
A revista The Salisbury Review foi fundada por Scruton em 1982 e editada por ele desde essa data até o ano 2001.
Muitos textos das primeiras edições eram do próprio Roger Scruton, assinados com pseudônimos. Hoje tem entre os principais colaboradores Theodore Dalrymple. Durante as décadas recebeu artigos de Václav Havel (último presidente da Tchecoslováquia), Alexander Soljenítsin (um dos heróis literários de Jordan Peterson) e a própria Thatcher.
A publicação criticava o igualitarismo, o feminismo, a ajuda externa, o multiculturalismo, o modernismo e a campanha pelo desarmamento nuclear. Segundo o próprio Roger Scruton, essa atividade arruinou a sua carreira acadêmica na Grã-Bretanha.
Como se não bastassem três processos e dois interrogatórios, a revista lhe custou o boicote, pelo Departamento de Filosofia da Universidade de Glasgow, de uma palestra que daria em 1984 a convite da Sociedade Filosófica da mesma instituição.
Muitos dos textos das primeiras edições da revista The Salisbury.
Não que Roger Scruton não enfrentasse represálias mesmo antes de fundar o periódico. Já por volta de 1980 o filósofo marxista G. A. Cohen, que no entanto viria a se tornar um amigo de Scruton, se recusou a ministrar um seminário a seu lado na University College London.
De fato, 1980 foi o ano da publicação de O que É Conservadorismo, certamente a sua obra que até hoje gerou maior repercussão. Saiba mais sobre o título na seção “Livros de Roger Scruton”!
E confira abaixo a palestra de lançamento, por Bruno Garschagen, na É Realizações Espaço Cultural:
Review eram do próprio Roger Scruton, seu fundador.
Não que Roger Scruton não enfrentasse represálias mesmo antes de fundar o periódico. Já por volta de 1980 o filósofo marxista G. A. Cohen, que no entanto viria a se tornar um amigo de Scruton, se recusou a ministrar um seminário a seu lado na University College London.
De fato, 1980 foi o ano da publicação de O que É Conservadorismo, certamente a sua obra que até hoje gerou maior repercussão. Saiba mais sobre o título na seção “Livros de Roger Scruton”!!!
Não que Roger Scruton não enfrentasse represálias mesmo antes de fundar o periódico. Já por volta de 1980 o filósofo marxista G. A. Cohen, que no entanto viria a se tornar um amigo de Scruton, se recusou a ministrar um seminário a seu lado na University College London.
E confira abaixo a palestra de lançamento, por Bruno Garschagen, na É Realizações Espaço Cultural:
https://www.erealizacoes.com.br/blog/roger-scruton/ >>> VÍDEO
Em 1987 Roger Scruton fundou e passou a dirigir sua própria editora: The Claridge Press, vendida em 2002 para o Grupo Editorial Continuum.
Entre 1989 e 2004 dirigiu a Central European Consulting Ltd., pequena empresa cofundada por ele para prestar consultoria de relações governamentais à Polônia, à República Tcheca, à Eslováquia, à Hungria, à Romênia e à Ucrânia, então recém-saídas do regime soviético. Desde 1990 até hoje, Roger Scruton compõe a mesa diretora do Civic Institute of Praga.
Para estabelecer essas atividades na Europa Central e do Leste, em 1990 Scruton obteve um ano sabático da Universidade de Londres. Na época, vendeu seu apartamento na Notting Hill Gate e, ao voltar para a Inglaterra, alugou da banda de rock The Moonies um chalé em Stanton Fitzwarren, Swindon.
Alugou também um apartamento em The Albany, prédio em Piccadilly (Londres) cujos apartamentos serviram de aposentos para os empregados de Alan Clark, político conservador que foi Ministro do Comércio de Thatcher e de John Major.
0 notes
Text
Capítulo 1: Déjà vu
A garota nunca teve dúvidas. Seus instintos nunca falharam. Aquele corpo podre era só mais uma confirmação: Thaiz não deveria viver. Talvez as coisas tivessem sido diferentes se o orgulho e o medo não a tivessem cegado no início do semestre. Mais uma vez fora traída por quem menos esperava e deixara de confiar nos que estavam do seu lado.
Thaiz era uma estudante de Relações Internacionais na PUC de Poços de Caldas e, diferentemente do que todos – inclusive seus pais – esperavam, ela se dava muito bem. Definitivamente não era tão focada quanto Paula, a moça exemplar que não se dava ao luxo de perder um ponto. Ainda assim, era poderosa e se destacava da mediocridade. Mal sabia que a serpente, em carne e osso, se apresentaria pra ela naquele ano. Muito menos enquanto se maquiava para o primeiro dia. Não era o grande primeiro dia. Não como quando ingressou no curso. Simplesmente voltaria a ver os rostos familiares que ficaram férias sem se encontrar. Na verdade, para Thaiz era um alívio ter tido um tempo sem eles. Não que fossem pessoas ruins, mas eram tão ativos que esgotavam a menina em segundos.
Terminou a arrumação e se cobriu com um sobretudo preto. Era verão, mas na maravilhosa cidade de Poços de Caldas, as estações não passavam de palavras escritas nos calendários de senhoras amargas. Clima era uma instituição à parte.
- Estou saindo. – Foi tudo o que disse para a mãe, antes de pegar a chave do Chevette verde-água e se dirigir pra faculdade.
O trânsito estava surpreendentemente tranquilo. Não fosse um babaca buzinando no semáforo, teria sido uma travessia perfeita. O tanque estava cheio, os cadernos arrumados e os cílios impecáveis. Não tinha o que dar errado. Ainda.
Enquanto estacionava o carro, viu pelo retrovisor um pobre coitado derrubando um monte de papéis. “Calouros”, foi tudo o que pensou. Antes de se dirigir para a sala de aula, passou pela cafeteria e pegou um copo grande de Cappuccino. Cafeína era completamente necessária. Enquanto saía, evitou um desastre (e um clichê). O mesmo rapaz que vira pelo retrovisor estava a um palmo de trombar e derrubar seu café. Thaiz não brigou. Revirar os olhos era sua maneira de reprovação.
- Desculpa. – O moço de cabelos pretos disse. – Você pode me dar uma informação?
- Tá bom. – Respondeu com pressa.
- Sabe me dizer onde vou ter essa aula? – O menino disse mostrando um de seus milhares papéis. – Não entendo esses códigos.
- Instituições Internacionais? – Thaiz perguntou surpresa. – Sala 9204. É pra lá que eu estou indo.
- Uau. – O menino respondeu descrente na coincidência.
Evitava-se um clichê e se chegava em outro. O rapaz, chamado Otávio, vinha de transferência da PUC de Belo Horizonte. Pela rápida olhada que Thaiz dera na sua grade de horários, eles fariam todas as matérias juntos. A moça não queria se tornar uma babá do novato, mas parecia não ter escolha. Assim que chegaram na sala, Otávio sentou do seu lado. Ele parecia estatelado, aliás. Não conseguia se enxergar em nenhum das ilhas que logo foram se formando pela classe. Era uma sala cheia, mas ele era o desconhecido por ali. Thaiz até manteve um certo nível de conversa com ele, mas isso até que Leandro, seu melhor amigo chegasse. Não era culpa de nenhum dos dois, ora essa. Ninguém era obrigado a ser amigo de ninguém.
Mesmo que os relógios marcassem 13:40, a professora não demonstrava sinais de aparecer. Só algum tempo depois que apareceu. Além de professora, era a coordenadora do curso. Carolina Boniatti Pavese. Um nome pra se ter respeito. E medo, sem dúvidas. O som dos seus saltos era mais ameaçador do que os rumores do fantasma do fundador da faculdade estar assombrando os prédios. Era baixinha e imponente.
- Sejam bem-vindos de volta. – A mulher começou a falar numa velocidade difícil de acompanhar. – Esse semestre será incrível, como todos os outros que vocês tiveram aulas comigo.
Apesar de provocar risadas, todos se sentiam um pouco desconfortáveis. Carol era conhecida por ser leve nas aulas e pesada nas provas. Mesmo assim, uma tendência ao otimismo permeava a turma. Até mesmo para Leonardo, o representante de turma cruel e com devaneios artísticos.
- Antes de começarmos, gostaria de dar as boas-vindas ao nosso novo aluno. – Carol disse apontando para Otávio. – Não quer se apresentar?
- Meu nome é Otávio. – O garoto respondeu se levantando. – Eu vim de Belo Horizonte.
- E por que pediu transferência? – Carol perguntou curiosa.
- Pra deixar o passado pra trás. – O garoto finalizou, se sentando.
- Muito bem, então. – A professora continuou. – Nós vamos começar bem o semestre: formem duplas, vamos começar um trabalho.
Ninguém pareceu surpreso. Carol não era de perder tempo. Otávio, entretanto, não se encontrava ali. Não era enxergado como uma dupla possível. A turma nerd era par: Paula e Dany, Paola e Juliana. As gêmeas Nathália e Natali eram uma dupla natural. Thaiz e Leandro nem cogitaram pensar no menino que sentava ao seu lado. As amigas silenciosas Camila e Júlia, também não viam problema em ignorar. Até mesmo Leonardo tinha sua fiel escudeira, a cheerleader Ana Lu.
- Te deixaram sozinho, novato? – Carol perguntou retoricamente. – Você pode fazer um trio...
- Desculpa o atraso! – Uma garota gritou escancarando a porta. – Eu perdi o ônibus.
- Bárbara! – A professora gritou assustada pela interrupção inesperada. – Entra, garota.
Babi era excentricíssima. Carregava uma cachoeira ruiva na cabeça. Se vestia como uma personagem de quadrinhos dos anos 60. Cropped-top verde-neon, calça rosa e um par de Louboutin de saltos médios. Não estivesse excêntrica o suficiente, trazia no colo um Lhasa Apso branco no colo. Era Spike o nome do cãozinho. Percebendo a formação natural de duplas, Babi se sentou ao lado do único assento disponível.
- O que tá acontecendo? – A garota perguntou perdida.
- A Carol entregou as instruções pra um trabalho. – Otávio explicou.
- Mas já? – Babi perguntou surpresa.
- Não é pra hoje. – O moço respondeu rindo. – Temos que entregar daqui um mês.
Pavese explicou como se desenrolaria o semestre e apresentou algumas diretrizes para o trabalho. Não parecia ser impossível. Não para quem era acostumado com o “Império Carolíngio”. Otávio e Babi se identificaram de cara. Ela era a louca atrasada e colorida e ele o menino novo que queria deixar o passado pra trás. Uma bela dupla de esquisitões. Eram barulhentos e inconvenientes, mas se percebia o alívio de todos na classe por não precisarem se preocupar com incluir o menino novo.
Durante o intervalo, o centro das atenções foram as gêmeas. Depois de uma caminhada de mãos dadas, elas se viraram e começaram a discutir. Ninguém parecia saber decifrar o motivo. Nath gritava com Nath. Paola e Juliana rapidamente se moveram para apoiar Natali. A menina era tão frágil que o simples levantar de voz de sua irmã fez com que murchasse. Nathália, por outro lado, deu braços com Ana Luísa e saiu balançando seus pompons. Precisavam treinar, porque a temporada de jogos, logo começaria.
Paula e Dany perderam a movimentação. Estavam xerocando os textos passados por Carol. Queriam se manter adiantadas. Na verdade, essa era uma promessa que renovavam todo semestre: “Dessa vez não vou atrasar a leitura de nenhum texto”. Essa promessa durava, em média, 3 semanas. Depois desistiam e se viravam como podiam. Aliás era assim com a maioria.
Otávio e Babi, descansavam na cafeteria, comendo uma torta de chocolate para esperar a próxima aula. O lugar estava, ainda, vazio. Mais vazio do que Babi conseguia se lembrar. Ninguém parecia surpreso, porém. Estavam acostumados a não verem muita gente nos primeiros dias de aula.
- Vamos comigo na biblioteca? – Thaiz disse para Leandro, interrompendo o silêncio barulhento que permeava os corredores.
- Biblioteca no primeiro dia de aula? – Leandro retrucou. – Você tá pior que a Paula.
- Muito engraçado. – Thaiz respondeu. – Quero pegar um livro do Bauman.
“Bauman” foi suficiente para convencer Leandro. Também tinha alguma curiosidade sobre os escritos do autor, desde que o professor Rogério o citara no último período. Thaiz queria estudar o “Amor Líquido”, livro que descrevia as relações amorosas na atualidade – tão plásticas que não duravam por muito tempo. Parecia descrever os namoros da faculdade. Entretanto, nenhum dos conseguiu pegar o livro. Esqueceram sua carteira, e sua viagem ao monte olimpo da biblioteca fora sem recompensas.
Voltaram para a aula da professora nova: Zezé. Nova era apenas a sua presença no curso. Desde o início mostrara-se com opiniões velhas. Calças que só velhos usam, também. Não era má pessoa, apenas uma vereadora apaixonada por empresários e descrente no nordeste. Sua aula fora um pouco confusa, mas todas as aulas inaugurais costumavam ser. Juliana até simpatizou com a professora e adorou seus óculos fofos.
- Alguém vai na Integra? – Paola perguntou, assim que Zezé finalizou a aula, buscando companhia para a festa.
- Eu vou. – Ana Luísa respondeu. – Vou levar um amigo de Cunha.
- Eu também. – Responderam as gêmeas, simultaneamente.
- Quando é essa festa? – Otávio indagou.
- Quinta-feira. – Juliana respondeu. – Eu estou vendendo ingressos, se você quiser ir.
Aparentemente, a classe toda iria. Thaiz não tinha certeza ainda. Precisava resolver alguns assuntos pendentes. Quando procurou as chaves do carro, não conseguiu encontrar. Leandro já tinha ido embora, então não poderia ser ele pregando uma peça, como de costume. Devia ter esquecido na sala. O corredor estava vazio. As luzes começaram a piscar. Quando entrou na sala, viu suas chaves na mesa da professora. Não conseguia imaginar o motivo de estar ali. Quando passou pela porta viu um homem com roupas eclesiásticas e sangrando pela cabeça. Ele se moveu na direção de Thaiz e ela não conseguiu expressar reação.
2 notes
·
View notes
Text
20 - #85 Vizinho gostoso
Título da fanfic: Vizinho gostoso
Sinopse: Sehun precisou se controlar ao máximo depois que viu o vizinho chegando da academia suado.
Couple: SeSoo
Número do plot: #85 Sehun tentava não ficar muito fora de si quando via Kyungsoo, seu vizinho, chegando da academia todo suado.
Classificação: +18
Aviso: Linguagem imprópria e Sexo
Quantidade de palavras: 8709
Sehun havia nascido com a bunda virada para a lua. O futuro, o qual planejou, parecia vir até si de bandeja. Bolsa da faculdade cem por cento ganha com êxito, graças às horas redobradas de estudos nos finais de semana e do cursinho pago pelos pais. Depois, um apartamento inteirinho só para ele; presente de formatura do seu irmão mais velho que era um empresário fora do país. Podia se dizer que Sehun era um filhinho de papai que só estudava, e que em breve teria o seu próprio negócio – mais uma vez com ajuda da família, porque essas coisas eram complicadas e caras. Mas Oh nunca havia duvidado de sua capacidade, e quando queria algo, fazia o impossível para conquistá-lo. E trabalhou duro nos últimos anos para juntar uma grana para fazer o seu sonho se tornar realidade.
Assim que inaugurou a clínica veterinária e pet shop e se mudou para o mais novo apartamento, Sehun se sentiu mais maduro, adulto pode se dizer. Com seus recém vinte e quatro anos e formado em Medicina Veterinária, ele teria uma vida inteira pela frente para fazer tudo o que sentia vontade; sem horário estipulado para chegar em casa, poderia deixar a louça suja na pia sem ninguém reclamar, a toalha em cima da cama caso estivesse muito atrasado, poderia ter um gatinho (o que realmente aconteceu após morar por praticamente quatro meses com o felino de pelagem cinza adotado).
Sehun amava o que fazia. Sempre gostou de animais e poder ajudá-los de todas as maneiras possíveis era muito satisfatório. Combinava super com a sua área; era uma pessoa doce e tranquila, conseguia conquistar os bichanos, e claro, atraia muito a atenção da mulherada, e também de alguns homens que ousavam flertar consigo e convidá-lo para jantar numa sexta-feira. Oh sempre recusava, pois não tinha interesse em se relacionar com seus clientes, nem com ninguém para falar a verdade; estava apenas focado em sua profissão.
Isso, é claro, até se encontrar com o gostosão no elevador.
Naquele dia, Oh acabou ficando mais tarde na clínica. Um cachorrinho tinha sido atropelado e ele não teve coragem de mandar o pobre bichinho para uma clínica vinte quatro horas aberta. Não, não. Ele tinha que cuidar do animal, fazer o possível para salvá-lo, o que felizmente aconteceu. Ele praticamente chorou ao ver o filhotinho deitado imóvel na maca. Mas tudo ocorreu bem no final.
A clínica veterinária ficava próxima do local onde morava, então poderia ir a pé e deixar a mente relaxar.
Voltou para casa de tardezinha. O sol já estava indo embora e fazendo o céu adquirir uma cor alaranjada pelo contraste que fazia entre as nuvens. Uma visão de tirar o fôlego, e que lhe proporcionou uma foto linda para o stories no Instagram, e mais outra logo em seguida, dessa vez, de seu próprio rosto cansado, sendo pintado pelas cores. Uma foto digna para postar e receber diversos elogios.
Enquanto esperava o elevador descer, o rapaz respondia algumas mensagens no Kakao, e ria digitando freneticamente algumas delas. Estava quieto, não havia feito nada para merecer um turbilhão de emoções e sensações. Sério.
Um baixinho chegou de supetão do seu lado; respirava com certa dificuldade e tinha a camiseta justa colada pelo suor em seu corpo forte. Ele não era só lindo, era gostoso pra cacete. A boca carnuda, os olhos grandes e redondinhos, a cabeça raspada, sem contar aquele corpo. Sehun nunca ficou tão desnorteado enquanto crushava alguém. Ele também nunca achou alguém tão bonito, e muito menos pensou em tantas besteiras em um curto espaço de tempo. Por Deus. “Puta merda”, foi o que ele pensou assim que se deu conta de que estava secando o homem ao seu lado.
Aqueles dez segundos foram o bastante para deixá-lo com as pernas bambas e o coração acelerado.
Recobrou a compostura enquanto ambos entravam no cúbico metálico, e por coincidência tocavam no mesmo botão.
- Desculpa – sussurrou. Achou que o outro não ouvira a sua voz de tão baixa e trêmula que ela saiu.
- Relaxa. – Que. Voz. Sehun só queria sair daquele lugar minúsculo antes que fosse ter um colapso mental. Já não bastava o cara ser gostoso, ele ainda precisava ter aquela voz grave que com certeza deixava muita menininha mole e muito adolescente com um problemão no meio das pernas.
Sehun saiu rapidamente do elevador, e mais uma vez, por ironia do destino, o rapaz desconhecido também saiu, caminhando em direção à porta que ficava em frente da de Sehun. Eram vizinhos.
O maior entrou no apartamento e fechou a porta cuidadosamente, não sem antes olhar rapidamente para o homem, o qual também entrava em seu lar enquanto secava a testa com uma toalha branca – a qual ele não notara anteriormente nas mãos alheias. Também, quem se importaria com um pedaço de pano quando se tinha uma visão daquelas? Só uma pessoa extremamente atenciosa.
Com o celular em mãos, Sehun abriu a tela de conversa com Minseok, seu melhor amigo, para contar o acontecimento recente. Precisava desabafar! Aquela situação era estranha demais.
Hun: Hyung?
Min: Desculpa a demora, fui tomar banho.
Havia conhecido Kim Minseok numa das festas da faculdade e desde então se tornaram inseparáveis. O Kim, por ser o mais velho, sentia necessidade de cuidar dele. Na época, Sehun conseguia ser inocente até demais, não vendo muita maldade nas pessoas que tentavam tirar proveito dele.
Hun: Tudo bem! Preciso te falar um negócio que aconteceu agora pouco.
Min: Diga.
Hun: Melhor eu mandar áudio.
E mandou. Contou tudo o que tinha acontecido, adicionando mais uns detalhes que o pobre Minseok não queria ter escutado assim que tocou a tela para ouvir o áudio de quase dois minutos. Porra, Sehun!
Min: Eu sei o que é isso.
Hun: O quê?!
Min: Há quanto tempo você não transa?
Hun: Faz um tempinho...
Min: Tá aí sua resposta. O nome é tesão acumulado.
Hun: Af. O que eu faço hyung? Não tô flertando com ninguém.
Min: Use e abuse das suas mãos.
E bom. Sehun não tinha muito que fazer para aliviar aquela excitação que se formara em seu baixo ventre. Poxa! Estava tão focado em seu trabalho – e com razão – que nem se preocupou com as reações de seu corpo. Mas ele também não era nenhum santo. Nos finais de semana abria várias abas no anônimo e procurava um bom pornô gay amador para assistir. Metia a mão nas calças e trabalhava por tempo suficiente até o corpo estremecer todo e um gemido, alto demais para o horário, reverberar pelo quarto. Mas estamos falando de sexo, e Oh estava na seca a mais tempo do que se lembrava.
**
O relógio marcava o mesmo horário que no dia anterior quando voltou para casa. Não estava fazendo de propósito, claro que não. Só quis dar uma ajeitada nos documentos da clínica, checar se os produtos não estavam fora da validade. Tinha uma menina que trabalhava especificamente para fazer aquele tipo de serviço, mas precisava conferir, era sempre bom.
Tentou andar no mesmo ritmo para que chegasse no momento exato.
E lá estava ele, Sehun, em frente ao elevador. Dessa vez, olhava para a porta metálica e mantinha as mãos no bolso, engolindo em seco de vez em quando.
Umedeceu os lábios assim que sentiu uma presença, virou o rosto como quem não queria nada, afinal os olhos foram feitos para ver. Apertou as mãos nos bolsos do jaleco, a ansiedade fazendo sua testa começar a orvalhar pelo nervosismo. Entretanto, murchou quando avistou uma senhora segurando algumas sacolas, e o cheiro de lavanda logo preenchendo suas narinas.
Foi educado o suficiente para se curvar e desejar uma “boa tarde” de maneira simpática, sendo retribuído pela senhora, a qual engatou em uma conversa aleatória. E Sehun a acompanhou, pois não seria nenhum mal educado.
O veterinário havia colocado esperanças demais em ver o vizinho gostoso novamente. Iludido.
Meu Deus... Sehun tinha vinte e quatro anos na cara, era adulto e tinha sido tocado – não como gostaria – pelo desconhecido só porque o mesmo exalou testosterona ao ponto de deixá-lo com vontade de fazer muitas coisas. Estava realmente na seca.
Min: E aí, viu o carinha lá?
Hun: Não. Ele não deve ir todos os dias à academia. Se é que vai lá.
Min: Ele pode praticar algum esporte. Se bem que, pelos seus relatos, ele só estava com a toalha e uma garrafa de água. Então...
Hun: Sim, estava. É melhor eu nem pensar muito nisso, senão ficarei na punheta por mais tempo. (carinha triste)
Min: Eu até te comeria, Hunnie. Mas você não faz o meu tipo.
Hun: Filho da mãe.
Min: Te amo. (coração vermelho pulsante)
Hun: Só cuido do teu cãozinho de graça, porque ele é muito fofo...
Sehun praticamente jogou o celular no sofá da sala e caminhou até a cozinha. Estava morrendo de fome, e nada que um jantar bem reforçado, e melhor, vegetariano, não deixasse o rapaz mais relaxado. Também deixou comida para o gatinho que já estava ao seu redor miando daquele jeitinho que o fazia se derreter todo.
Depois que jantou, se obrigou a lavar a pilha de louça suja que se acumulara durante alguns dias, deixando a cozinha brilhando de uma vez por todas.
Foi para a sala, ligou a televisão, ajeitou o felino em seu colo e terminou de assistir a série que estava pendente há uma semana.
Estava tão cansado que quase dormiu, porém não podia acumular mais uma série e colocá-la na lista de ‘séries que não acabei, mas que um dia terminarei de assistir’, pois todo mundo sabe que é pouco provável que você acabe. Por isso, atacou o café sem açúcar e assistiu sua série até o final, dormindo feliz mais tarde por causa de uma conquista boba.
**
Os dias de trabalho felizmente (e infelizmente) haviam acabado.
Para o veterinário tinha os seus prós e contras. O bom é que teria, nos próximos dois dias, tempo para fazer vários nadas, entretanto (e com certeza) seria puxado pelo melhor amigo para alguma balada à noite. O ruim é que não teria nenhuma chance de esbarrar no vizinho. Tudo bem, teria outras oportunidades. Talvez ele tivesse crushado demais o vizinho e pensasse demais nisso. Porém, tiraria a ideia rapidinho da cabeça e aproveitaria bem o final de semana.
O que realmente aconteceu, pois Sehun acordou com uma baita ressaca no domingo à tarde – nada que um remédio para dor de cabeça e mais algumas horas dormindo não resolvessem.
Estava tão exausto que apenas comeu um ramen comprado acompanhado de um copão de suco de morango, e foi direto pra cama, não sem antes claro, tomar um banho e escovar os dentes.
**
Sabia que estava encrencado quando passou a voltar para casa sempre no mesmo horário. O que não era exatamente um problema, pois normalmente voltava para seu apartamento ��s seis e meia, e com os últimos acontecimentos estava voltando praticamente às sete horas. O que eram trinta minutinhos, certo?
Muita coisa, na verdade.
Primeiro que na segunda-feira havia esbarrado – literalmente – em seu vizinho. Estava distraído demais no celular quando foi entrar no prédio e bateu de frente com ele, o qual apenas se curvou e pediu desculpas daquele jeitinho de deixar o veterinário sem fôlego.
E segundo que naquela semana eles se esbarraram mais vezes (e Sehun anotou mentalmente os dias que o outro ia à academia).
Oh jamais admitiria para si que só fazia aquilo porque realmente estava de olho no vizinho, e poxa, estava na seca também, qual é. Olhar não arrancaria pedaço. E o baixinho parecia não ligar muito para ele; mesmo que passasse a cumprimentá-lo na terceira vez em que se encontraram na entrada do elevador. Claro que Sehun não conteve o sorriso tímido e o rubor nas bochechas, devolvendo um “boa noite” baixinho.
Depois que chegava em casa, pegava o celular e mandava mil mensagens para Minseok. Pobre do rapaz que tinha que aturar o outro todo bobo, e pior, ler tantas sacanagens para uma pessoa só.
Min: Por favor, guarde essas pornografias pra você! Ou melhor, por que você não dá um jeito de dar em cima dele?
Hun: E se ele já estiver comprometido?
Min: Pelo menos você vai superar mais cedo. O ‘não’ você já tem, só falta tentar.
Hun: Não sou tão descarado assim, hyung.
Min: Mas pra falar sacanagem você é, né? (carinha rindo)
Hun: Idiota. (carinha revirando os olhos)
Min: É sério, faz alguma coisa. Não aguento mais ler essas safadezas. E preciso levar o Pudim pra vocês darem banho nele.
Hun: Saudades do Pudim. Só me avisa quando que eu deixo o horário marcado pra ele.
**
Sehun estava exausto. Tinha trabalhado um bocado e até passado raivinha, porque um cliente foi extremamente grosso consigo, só porque o cãozinho dele tinha piorado depois de ter ido lá. Mas ele não tinha culpa! Era só uma virose que o animal pegou, e que logo passaria. Ele sabia disso.
Porém não deixaria que aquilo estragasse o final do seu dia. Até passou no mercado para comprar um potão de sorvete sabor morango, seu preferido. Não se lembrava de quando fora a última vez que tinha tomado, só sabia que precisava urgentemente de uma dose de açúcar.
Estava tão aéreo que nem pensou no vizinho – ainda desconhecido, mas nem tanto também – enquanto voltava para casa, cabisbaixo.
O homem lhe cumprimentou, e Oh respondeu um tanto desanimado. Recebeu uma expressão indecifrável, mas que não ligou muito por estar cansado demais.
- Você é veterinário, certo?
Sehun estava tão concentrado em procurar a chave correta para abrir a maldita fechadura, que seu corpo sofreu um sustinho, fazendo com que derrubasse as chaves no chão. O vizinho pegou o objeto e entregou a ele.
- Obrigado – sorriu sem mostrar os dentes – Sim, eu sou.
- Meu gato precisa de um banho, mas ele odeia água. Não aguento mais ser arranhado. – O baixinho olhava para os próprios braços. E que braços! As veias sobressaindo na pele alva – Trabalha aqui perto?
O olhar firme do baixinho lhe fazia se sentir nu, ou algo do tipo. O coração parecia que sairia a qualquer momento da caixa torácica.
Opa! Pera aí. Seria essa uma oportunidade?
- Sim, a minha clínica não fica muito longe daqui.
- Tem algum cartão...? – Ele ergueu a sobrancelha.
- Só um instante. – Sehun abriu a bolsa transversal e pegou a carteira, retirando de lá um cartãozinho com o nome, endereço e o número de sua clínica – Aqui. Eu trabalho de segunda a sexta. Mas ela abre sábado também, até às quatro horas da tarde – explicou direitinho.
- Hm. Eu vou passar lá amanhã então... É o dia em que eu não vou para a academia. – Uma informação muito útil que o mais alto já havia deduzido.
- Ok. – Não sabia o que responder, então se limitou àquilo.
- Então tá... – O rapaz fechou os olhos como se tentasse enxergar o que estava escrito no crachá preso ao jaleco - Sehun. Boa noite.
- Boa noite. – Sehun acabou se atrapalhando todo quando ouviu seu nome soar tão sexy pela boca do outro.
- Doh Kyungsoo – o baixinho completou, como se lesse a mente do veterinário, e entrou em seu apartamento.
Já sabem né? Oh correu para o seu apartamento e mandou alguns milhares de mensagens para o melhor amigo, contando o que tinha acabado de acontecer.
Mas tinha um porém. Ele não poderia dar em cima de seu futuro cliente!
Quem ligava pra isso? Sehun era dono do próprio negócio. Era lógico que ele poderia dar umas flertadas, claro, se tivesse coragem suficiente para fazer isso.
Além de ganhar um cliente, tinha conseguido o nome dele também. Doh Kyungsoo. Um nome lindo para um cara mais lindo ainda. Precisava dar um jeito de ter aquele homem em sua cama de alguma forma.
Mas não pensem que Sehun era todo atirado assim. As pessoas têm necessidades, inclusive sexuais. Como já dizia o seu melhor amigo: “era tesão acumulado”, e ele estava solteiro. Então, não tinha nada demais estar desejando tanto alguém assim, ainda mais o baixinho musculoso, braços fortes... E outras coisinhas a mais que o horário talvez não permita.
Só precisava de um pouco de paciência e coragem até o dia e horário que Doh apareceria em sua clínica.
**
Sehun acordou mais cedo do que o normal.
Talvez estivesse muito ansioso para trabalhar naquela sexta-feira, ou porque teria um cliente especial e precisaria de forças para não cair de quatro – literalmente.
Mas como um bom profissional, o foco era o gatinho do Doh, e claro, cuidaria muito bem do felino, o qual com certeza sairia limpo e cheiroso, mas talvez não tão contente de sua clínica. Porém ele faria o possível para devolver o bichano tranquilo.
Doh iria à clínica por volta das seis horas, o que Sehun deduziu ser após o trabalho. Muitas pessoas que trabalhavam durante o dia levavam seus bichinhos àquele horário, o que fazia o veterinário repensar sobre a sua carga horária. De qualquer forma, poderia aproveitar aquela oportunidade com as duas mãos, já que ambos moravam no mesmo prédio e provavelmente sairiam juntos.
E lá estava Kyungsoo, dessa vez cheiroso e arrumado, com um gatinho preto e branco no colo – os olhos bem amarelos arregalados. Pobrezinho.
Sehun não se conteve em se aproximar do gatinho e conversar com ele, ousando até mesmo roçar os dedos nas orelhinhas pontudas.
- Ele já deve saber o motivo de estar aqui – Sehun comentou com o menor. A aproximação proporcionou ao rapaz um aroma deveras gostoso vindo do outro, o que lhe deixou um pouco desnorteado.
- Eu só espero que ele fique bem.
Sehun notou a preocupação alheia. Era evidente que o rapaz era apegado ao gato pela maneira com a qual olhava para o mesmo.
- Ele ficará – disse com firmeza – As meninas vão cuidar muito bem dele.
- Qualquer coisa eu arrombo o seu apartamento.
- Ah – Sehun franziu o cenho tentando imaginar naquele momento o que seu vizinho poderia fazer consigo.
- Eu ‘tô brincando. Mas é sério, espero que ele fique bem.
Logo, uma das mulheres chegou com um sorriso meigo nos lábios, dando total atenção ao felino, tentando conquistá-lo. A mesma fez algumas perguntas ao Doh e não levou muito tempo para seguir com o Mok – que veio descobrir ser o nome do gato – para dar banho.
- Eu vou cuidar de mais um “paciente” – Sehun fez aspas com os dedos. – Então fique a vontade. Em breve o Mok estará de volta, acredito que ele seja o último animalzinho a tomar banho antes de fecharmos.
- Você demora muito tempo pra fechar a clínica?
Sehun ergueu a sobrancelha, mas se manteve firme, sem demonstrar a expressão de surpresa com a pergunta.
- Não muito. – Tinha as mãos no jaleco enquanto balançava o corpo, apreensivo – Por quê?
- Moramos no mesmo prédio – Kyungsoo disse como se fosse o óbvio – E podemos voltar juntos. A menos que tenha outro compromisso.
- Não tenho. Pode ficar me esperando se quiser – soltou um risinho tímido e seguiu para sua sala onde cuidaria de um cãozinho doente.
Sehun atendeu o seu último caso do dia ao mesmo tempo em que Mok acabava de tomar o seu banho. O bichano encontrava-se calmo, sem sinais de que tinha passado por estresse, e Doh ficou todo bobo pelo trabalho excelente, acariciando a pelagem, agora macia e cheirosa do animal.
Finalmente deu o horário de fechar a clínica e o veterinário respirava fundo para não transparecer a ansiedade que sentia. Suas mãos começaram a suar mais do que o normal e o seu estômago sofria algumas pontadas.
- Droga – murmurou para si mesmo enquanto caminhava em passos lentos para a sala onde Kyungsoo estava lhe esperando – Vamos?
- Sim. – O moreno levantou do lugar onde estava sentado e colocou o gato na caixinha.
No início, o veterinário não sabia o que fazer e muito menos o que falar. Não sabia agir de modo normal na presença do baixinho, portanto os diversos meios para puxar assunto ficaram presos em sua garganta. Porém, felizmente, Doh pareceu se tocar da situação em que se encontravam, e tomou as rédeas, jogando um comentário pra lá de engraçado sobre as possibilidades de seu gato arranhar a cara da mulher responsável pela limpeza deste.
- Já teve casos de cachorros fugindo e nós correndo pela rua desesperados atrás deles – Sehun riu ao se lembrar do acontecimento.
- Eu imagino que sim. Ainda mais cachorros de porte grande. – Kyungsoo afirmou.
Os dois andavam lado a lado, calmamente como se não tivessem pressa para chegar a seus respectivos apartamentos.
O caminho fora melhor do que Sehun imaginara que seria. Descobriu que Kyungsoo era farmacêutico e trabalhava do outro lado da cidade e que era dois anos mais velho do que ele. E achou a informação interessante, já podendo imaginá-lo de jaleco assim como si, não podendo conter o sorriso.
Se estivesse delirando, poderia deduzir que tinha pintado um clima bem gostosinho entre os dois. Ainda mais quando o veterinário soltou sem querer, mas sem querer mesmo, que ele havia ficado uma gracinha careca, recebendo um “obrigado” em meio a um sorriso maravilhoso que fez com que ele achasse que poderia ter um treco a qualquer momento. Com certeza era o sorriso mais lindo do mundo, e de bônus tinha um formato de coração.
Assim que chegaram ao prédio e subiram para o andar de suas moradias, o silêncio pareceu ter voltado novamente, deixando Oh um pouco constrangido por não saber exatamente o que fazer para se despedir.
- Obrigado por ter cuidado do meu gato. Praticamente salvou as nossas vidas.
- Minha clínica sempre estará aberta para você.
- E o seu final de semana também? – Kyungsoo perguntou sério.
Sehun piscou os olhos e tentou falar alguma coisa, porém gaguejou bonito, o que fez o farmacêutico rir divertido pela sua expressão de surpresa.
- Qual é? Acha que eu não notei o seu interesse? Pelo visto você é bem lerdinho pra não notar o meu também.
- É... Você me pegou. – Sehun desistiu de tentar fazer-se de desentendido, rendendo-se totalmente a Kyungsoo e os seus joguinhos.
- Ainda não. Mas estou querendo. – Essa jogada com certeza deixou o veterinário todo vermelhinho. Kyungsoo além de ser um puta gostoso, ainda era direto, e não tinha sequer medo de levar um fora.
- Você é bem direto – Sehun sussurrou tímido.
- Estou apenas apressando as coisas para nós dois – disse simplista.
- Ok – Sehun suspirou – No meu apê ou no seu?
- No meu. Vou fazer um jantar bem delicioso pra gente
Sehun com certeza gostou da ideia, ainda mais por saber que Kyungsoo parecia ‘cozinhar’ como um hobby.
- Fechou então. Amanhã aqui às oito horas – o farmacêutico jogou uma piscadela, deixando o maior todo bambo.
- Beleza.
Antes de entrar em seu apartamento, ouviu a voz de Doh lhe chamando.
- Me dá o seu número.
- Ah... Sim. – ele ainda estava sem jeito com a situação; todavia faltava pular de alegria pelo recente acontecimento.
Passou o número e se despediram depois de uma troca intensa de olhares; uma tensão sexual palpável no ar por estarem próximos demais. Kyungsoo foi o primeiro a dar às costas e entrar, e Sehun fez o mesmo que ele logo em seguida.
- ‘Tô te falando Sehun! Você dará essa bunda amanhã.
Conversava com Minseok pelo celular. A emoção fora tanta que precisou fazer a ligação, soltando tudo de uma vez assim que o mais velho atendeu.
- Você acha hyung?
- Se eu acho? Cê tá brincando, né? O cara fala que tá afinzão de ti, te convida pra comer na casa dele. Acha mesmo que ele vai comer só a comida? Meu querido, a sobremesa será você.
- Há possibilidades…
- Possibilidade é o caramba! Eu tenho cem por cento de certeza. Se joga nesse homem de uma vez. Talvez só assim pra você acabar com esse humor do cão que tu tá tendo ultimamente.
- Como se eu tivesse culpa, né? Acabo me estressando no trabalho. Aqueles bostas não cuidam direito dos bichinhos e levam para a clínica nas últimas. Tadinhos.
- Gente sem noção... Mas pelo menos você ‘tá ali pra salvar eles. E você é um excelente veterinário – ouviu o outro cantarolar.
- ‘Tá, me fala quando vai levar o Pudim.
- Segunda-feira.
- Interesseiro – resmungou.
- Se um dia você for preso, eu te tiro da cadeia. Relaxa, ‘tá tudo esquematizado.
- ‘Tá se achando demais.
- Meu lindo, você não ‘tá com essa bola toda pra cima do advogado mais gostoso da Coreia do Sul.
- Boa noite! – Sehun gritou entre gargalhadas, desligando a chamada na cara de seu amigo.
Mais tarde o celular vibrou, e todo despreocupado fora ver do que se tratava a notificação. Sehun se engasgou com a própria saliva quando leu “Doh” na tela, ficando todo nervoso para responder o “Oi, Hun” alguns segundos depois.
Virtualmente se sentia mais confiante, então foi fácil engatar uma conversa confortável e divertida. Já tinha achado Kyungsoo legal pra caramba mais cedo quando conversaram de verdade, além do mesmo transparecer preocupação consigo aparentando ser todo bobinho. E aquilo só aumentou seu interesse.
Foi dormir somente quando se deu conta de que já era de madrugada e Kyungsoo alegou estar morrendo de sono. Com muita dor no coraçãozinho se despediu dele, mandando um sticker fofo, sorrindo faceiro quando recebeu um também.
***
Sehun não conseguia negar que estava nervoso para caralho. Chegou até mesmo a acordar com dor no estômago novamente, fazendo-lhe recusar o café da manhã pelo enjoo - que logo fora esquecido assim que viu a mensagem de bom dia de Kyungsoo, ficando extremamente animado enquanto conversava com o rapaz.
Passou a manhã toda assistindo televisão, ou melhor, pensando num carinha aí, imaginando como seria a noite... O que fariam, o que comeriam e o que rolaria depois do jantar.
Era muito para o pobre veterinário.
O dia passou num piscar de olhos. E lá estava Oh se arrumando todo e colocando o seu perfume preferido pra ficar bem cheiroso e atrair Kyungsoo ainda mais. Tinha os seus métodos também.
Olhou no relógio e balançou a cabeça em confirmação: a hora era agora e não podia mais fugir. Verificou se o celular estava em seu bolso e seguiu para o apartamento do farmacêutico, tremendo dos pés a cabeça.
- Boa noite, Sehun. – Doh recebeu-o com o seu sorriso de matar qualquer um. Ele estava lindo.
- Boa noite Soo – entrou no apartamento aproveitando para dar uma olhada no local, cogitando se Kyungsoo era realmente organizado ou se ele tinha arrumado tudo por causa dele.
- O nosso jantar não vai demorar muito. Daqui a pouco ‘tá saindo.
O veterinário se xingava mentalmente por não saber como responder. Queria poder agir sem aquela vergonha toda, mas sentia-se receoso demais.
– Vem, vamos pra cozinha. – E Sehun foi, cheio de timidez.
Se Doh já era lindo sem fazer nada, cozinhando então o deixava ainda mais eufórico. Não podia negar, estava caidinho pelo baixinho careca, e a tendência era só aumentar.
Mais uma vez o farmacêutico tomou o controle do assunto, fazendo o veterinário se soltar aos poucos até estarem rindo de micos que já pagaram na rua. Como a vez em que Kyungsoo se atrapalhou todo e tropeçou no próprio calçado, ou quando Sehun derrubou no chão o sorvete que tinha acabado de comprar. Ambos tinham milhares de micos a serem compartilhados.
Teve um momento em que Doh se sentou na cadeira – Sehun estava em pé, no parapeito da entrada da cozinha – e ficou olhando fixamente para si, como se prestasse atenção em cada palavra que proferia, de braços cruzados ressaltando os músculos. Não demorou muito em desviar o olhar, piscando os olhos, nervoso, pela situação. E o baixinho se limitou a rir, levantando-se novamente para dar uma olhada no fogão.
Depois de conferir como andava a própria comida, Kyungsoo não voltou a se sentar, e sim, caminhou em sua direção se escorando do outro lado da entrada da cozinha.
Com a aproximação repentina naquela distância considerável, Sehun ficou sem jeito, mas permaneceu conversando normalmente, passando a língua entre os lábios sem parar enquanto olhava de vez em quando para a boquinha de coração.
E Doh notou com certeza aqueles olhares, porque já havia percebido que o veterinário não sabia disfarçar suas intenções, o que era muito bom. Então, com jeitinho, foi se aproximando cada vez mais do maior. Tocou a cintura alheia com calma, observando a maneira como o rapaz sorriu envergonhado, tendo os olhos nublados pela vontade que sentia, assim como ele. Deixou uns beijinhos no pescoço alheio e foi subindo em direção à boca, onde finalmente puderam se entregar e se beijarem com vontade. E Sehun não se conteve em nenhum momento, enfiando a língua despudoradamente na boca dele, apertando o corpo do outro colado ao seu.
Separaram-se ofegantes. Kyungsoo tinha a boca inchada e um sorriso safado nos lábios, e Sehun, além de estar na mesma situação, ainda sentiu algo lhe cutucando, podendo ver depois que era o “amigo” do mais velho dando um grande olá para o seu que também marcava a sua calça.
Logo o jantar ficou pronto e Sehun agradeceu mentalmente. Estava morrendo de fome, pois não tinha comido muito bem durante o dia.
Fez questão de ajudar Kyungsoo organizando a mesa. Lógico que o farmacêutico tentou pará-lo, mas depois de muita insistência e um biquinho que Sehun fez sem perceber, o mais velho se rendeu e voltou a sua atenção para o prato de vidro onde pôs a sua suposta iguaria Tagliatelle Bolognese, colocando-a em seguida no centro da mesa.
Sehun sentou-se e esperou o dono da casa ir buscar o que quer que fosse, arregalando os olhos ao vê-lo trazendo consigo um vinho.
- Tudo isso pra mim?
- Tenho que fazer bonito no primeiro encontro – Kyungsoo disse enquanto servia o vinho nas duas taças de vidro.
- Primeiro? Então terá outros? – Sehun brincou, mas com um fundinho de verdade.
- Se você quiser, sim.
E Sehun não era nem bobo de negar os convites futuros.
- Eu quero – trocou um sorriso cheio de intenções com o menor, e de bônus ganhou um beijinho na boca.
Assim que experimentou a comida de Kyungsoo, o veterinário fez questão de despejar elogios pela refeição. O farmacêutico apenas sorria envergonhado, dizendo que não era nada demais, e que ele merecia comer alguma coisa que prestasse na primeira noite. Notou que o baixinho não sabia lidar com elogios, e achou aquilo muito fofo pelas suas expressões. Doh só tinha cara de mau, mas na verdade era extremamente educado e gentil.
Após comerem, ajudou com a louça mesmo ouvindo diversas intervenções sobre deixar aquela bagunça ali, que no outro dia ela seria resolvida. O mais velho mais uma vez cedeu à carinha meiga, pegando um pano de prato na gaveta e começando a secar os talheres.
A verdade era que Sehun só estava ganhando tempo para ficarem juntos antes de infelizmente ir embora. Mal sabia ele que Kyungsoo tinha outros planos para a noite.
- ‘Tá a fim de assistir a um filme? - Doh perguntou como quem não queria nada.
Eles haviam terminado de limpar a cozinha, e o mais novo secava suas mãos no pano que o outro segurava.
- Claro. Qual filme? – Sehun respondeu como se acreditasse que realmente iriam assistir ao filme. Quem nunca jogou o lance do “filmezinho”? Todo mundo sabia que era uma desculpa esfarrapada.
- Podemos maratonar X-Men. O que você acha?
Ok, talvez ele estivesse pegando pesado. Sehun era apaixonado pela série, e o outro também era. Então esse lance de se pegarem no sofá talvez não viesse a acontecer. Ou foi o que ele pensou.
Sentaram-se no sofá e Kyungsoo colocou o filme. Optaram por não fazerem nada para comer já que não fazia muito tempo que tinham jantado, e estavam cheios depois de se atracarem no macarrão. Eram bons de garfo.
No início, Sehun estava definitivamente prestando atenção no filme. Gostava demais dos X-Men; acompanhava tudo, tinha até algumas HQs e feito uns cosplays em sua adolescência. Ele podia ser todo metidinho a adulto, mas não conseguia esconder o seu geek interior.
Até aí tudo bem. O coração acelerava a cada cena, o sentimento nostálgico fazendo os olhos marejar ao lembrar-se de quando assistira ao filme pela primeira vez. Aquela coisa de fã.
Porém sua atenção toda fora interrompida quando sentiu o joelho alheio encostar-se a sua perna. Pronto, ficou todo retesado, nervoso, começando a suar somente com aquele contato.
Olhou de relance para Doh e o mesmo parecia tranquilo olhando para a televisão, como se estivesse completamente focado no que se passava. Então, deu uma mexidinha na perna fazendo com que aquela parte se roçasse ainda mais, aproximando-se cautelosamente, deixando os ombros se chocarem um no outro. Aí não teve jeito! Kyungsoo colocou a mão na sua coxa e ficou apertando de leve, e Sehun só sabia morder os próprios lábios por conta do tesão, ainda mais pela sensibilidade em que seu corpo se encontrava.
Sentiu o olhar do baixinho queimando sobre si, e mais uma vez direcionou o rosto para o rapaz, deixando bem claro que sim, queria muito pegar ele a noite inteira.
Doh captou o sinal verde imediatamente, não demorando muito para pousar a mão em sua nuca e puxá-lo para um beijo lento, de início. O baixinho maltratou o seu lábio inferior com mordidinhas, puxando-o apenas para deixá-lo com mais vontade. E Sehun, todo apressadinho, encaixou de vez as bocas e beijou aquela boca carnuda com vontade, ambos deslizando as mãos pelo corpo um do outro para se conhecerem ainda mais.
As mãos bobas arrancavam vários suspiros, e uns gemidinhos baixos por parte de Sehun, ainda mais quando o mais velho apertou sua bunda, fazendo-o sentir uma pontada em seu baixo ventre, o qual se remexeu todo – fato que não passou despercebido por Kyungsoo que, sem pensar duas vezes, levou a mão até o meio de suas pernas, sentindo o seu membro ereto por cima do jeans que usava.
- Deixa eu te confessar uma coisa - ouviu a voz rouca de o rapaz sussurrar em seu ouvido – Fiquei com vontade de te pegar desde a primeira vez que te vi no elevador.
- E-Eu também... – Sehun pendeu a cabeça para o lado, deixando que Doh prosseguisse com os beijos ali, se tremendo todinho quando este deu atenção àquela parte sensível enquanto ele puxava com firmeza os seus cabelos.
- É... Você não é bom em disfarçar as coisas – Kyungsoo riu ladino.
Nesse patamar, Sehun já nem sabia de mais nada, apenas se entregava.
- Difícil me controlar... Você é tão gostoso.
Quem estava se controlando há algum tempo era Doh, mas depois da confissão ficou ainda mais complicado e tacou o foda-se, pegando o maior no colo e levando-o para o seu quarto.
Kyungsoo fazia academia, malhava e comia batata doce, é claro que ele conseguia levar Sehun até o cômodo às cegas. O veterinário até mesmo brincou em como ele era forte, recebendo uma mordidinha no pescoço e um aperto forte nas coxas.
Doh colocou Sehun delicadamente sobre a cama, e quando fez menção para sair e ligar a luz, o outro se agarrou em si.
- Soo... - Sussurrou. Por ser sua primeira vez com o rapaz, era normal estar com vergonha. Entretanto não sabia como o outro poderia lidar com aquele pedido, e sentiu um pouquinho de medo.
- ‘Tá se sentindo bem? Se não quiser fazer tudo bem, Hun. – Sentiu o hálito quente chocar-se contra o seu.
- N-Não é isso... Só que – engoliu em seco, tomando coragem – Não acenda a luz – fechou os olhos com força após dizer aquilo de maneira quase inaudível.
Doh ficou um pouco surpreso, mas logo sorriu como se entendesse o que se passava em sua cabeça. Não queria deixá-lo constrangido, longe disso!
- Como preferir, meu bem.
Sehun sentiu a mão alheia tocar sua bochecha e fazer um carinho, e assim que abriu os olhos, a respiração falhou: Kyungsoo tinha uma expressão que nunca havia visto até então, como se quisesse passar tranquilidade.
– Caso se sinta constrangido ou incomodado com qualquer coisa é só me falar que eu paro, ok? Não quero que se sinta mal. Tenha em mente que eu não me importo se a gente não fizer nada. Podemos voltar a assistir ao filme que ‘tá tudo certo.
- Pode deixar, Soo – sorriu como se um peso tivesse sido tirado de suas costas – E eu quero sim.
- Adoro quando me chama assim. – Kyungsoo respondeu, voltando a beijá-lo com afinco.
Por vê-lo apenas parcialmente por conta da penumbra do quarto, e tendo somente a luz da lua para iluminar um pouco o ambiente, Sehun falou para o menor que o mesmo poderia acender o abajur. Doh perguntou várias vezes se o rapaz tinha realmente certeza disso antes de cumprir o seu desejo, e após vários “sim, Soo... ‘Tá tudo bem, sério”, ele ligou e pôde visualizar um Sehun lindo em sua cama, os cabelos esparramados pelo colchão.
Não resistindo nem um pouco à beleza do outro, Kyungsoo se acomodou entre suas pernas e voltou a maltratar o seu pescoço, deliciando-se com os seus gemidinhos baixos enquanto passava a destra pelo torso por baixo da camiseta - não demorando muito para tirar a mesma e jogá-la em um canto qualquer.
Puxando Sehun para o seu colo, Doh deslizou as mãos pelo corpo nu do rapaz, sentindo a pele morna se retesar pelos seus toques. Segurando com firmeza a cintura alheia, caiu de boca nos mamilos eriçados do maior, o qual automaticamente colocou a mão em sua nuca, e passou a rebolar sobre o seu falo duro e ainda coberto.
Doh foi descendo aos poucos até chegar ao local onde queria. Apertou o membro de Sehun por cima da calça alheia, mordendo os lábios ao visualizar o rapaz todo manhoso e entregue para si, ficando com mais vontade ainda de tomá-lo para si. Porque sim, era evidente que queria ter uma noite de prazer com o maior, e se tudo desse certo poderiam ter mais vezes e quem sabe uma coisinha a mais, né? Sehun era incrível, e ele não se arrependeu nem um pouco quando tomou coragem para cumprimentá-lo quando passaram a se encontrar no elevador por acaso. Sabia que deveria tomar uma atitude já que ficou ainda mais interessado quando o notou olhando para si daquele jeitinho. Deveria fazer alguma coisa. Não podia deixar a oportunidade passar.
No início ficou com um leve receio, porque poderia ter sido coisa da sua cabeça. Mas depois que se esbarraram na entrada do prédio e os dois ficaram um bom tempo se encarando, sabia que tinha que falar com o rapaz de qualquer maneira.
Após deixar Sehun totalmente despido e fazer o mesmo consigo, recebendo um “Nossa Soo! Que saúde”, ele envolveu os dedos ao redor do membro rígido do rapaz iniciando uma masturbação lenta. Sentia-o pulsar em sua mão e aquilo lhe instigou ainda mais a prosseguir com os toques.
Sehun não soube controlar mais os gemidos quando Doh passou a deslizar a língua sobre a extensão de seu pênis duro para logo em seguida sugar sua glande, causando-lhe um grande tremor.
As bochechas queimavam pela excitação e pela vergonha do contato visual profundo que ambos mantinham mesmo naquela posição. E Sehun achou que poderia gozar somente com aquele olhar safado que recebia enquanto tinha o seu membro engolido por Kyungsoo; seus testículos também recebendo uma atenção especial.
Doh abandonou o falo alheio e se esticou para pegar alguma coisa na gaveta da pequena cômoda, ao lado da cama. Acabou por ficar com o seu pênis próximo ao rosto de Sehun. O mais novo não conseguia resistir àquela visão maravilhosa que deixava a sua boca salivando. Por isso ajeitou-se de maneira que pudesse ficar com o rosto ainda mais pertinho, e segurou o membro alheio sem aviso prévio.
Kyungsoo tomou um pequeno susto pela ação, mas assim que viu o que o outro queria, ficou de joelhos sobre a cama e deixou que Sehun o chupasse o quanto quisesse, segurando os cabelos alheios com força e pendendo a cabeça para trás ao sentir a boquinha do maior fazendo um ótimo trabalho em si.
A felação foi finalizada depois que puxou os cabelos do mais novo, afastando-o de si e ouvindo um “ploc” característico quando este abandonou o seu pênis e voltou a se deitar na cama.
O corpo de Sehun sofreu um choque ao sentir o dedo alheio a tocar a sua entrada. O líquido gélido mais a sensação de estar sendo estimulado ali por Kyungsoo, era demais. Abriu mais as pernas e rebolou, choramingando para que o mais velho enfiasse logo os dedos em si. E Doh nem ousou negar aquele pedido, enfiando o indicador com calma na entrada alheia e esperando o maior se acostumar com a intrusão para assim prosseguir com os movimentos, arrancando sons manhosos da boca de Sehun.
E como adorou ouvi-lo gemer alto quando passou a movimentar dois dedos em sua entrada, alargando-o para que conseguisse receber o seu membro sem se machucar. Sehun tinha a sua intimidade pulsando e gotejando pré-gozo, melando sua barriga a cada vez que Kyungsoo tocava o seu ponto sensível.
- S-Soo! – ele revirou os olhos, rebolando com vontade – P-Para... Não quero gozar ainda…
Kyungsoo então afastou os seus dedos, pegou a camisinha e revestiu seu membro com o látex, colocando um pouco mais de lubrificante no mesmo. Ficou entre as pernas de Sehun e foi envolvido por seus braços, sendo prendido ali. Deixou alguns selares pelo rosto alheio como se quisesse relaxá-lo antes do momento.
- P-Pode ir... – A voz de Sehun estava falha e rouquinha, e mesmo assim continuava linda.
Doh posicionou o pênis na entrada alheia e a penetrou bem devagarzinho, respirando fundo ao ter Sehun se contraindo e o expulsando sem querer; seu membro sendo completamente esmagado pelo interior do rapaz. Com muito autocontrole, ele conseguiu enfiar tudo, e ambos gemeram após o feito.
- V-você é tão grande, Soo. – Sehun o puxou para um beijo eufórico, batendo sem querer os dentes.
E Kyungsoo nem ao menos conseguiu responder por estar com a boca ocupada e o coração acelerado.
Pouco a pouco foi aumentando a velocidade das investidas. Sentir o interior de Sehun estava sendo melhor do que havia imaginado. O rapaz tinha uma expressão deveras pornográfica, e arranhava toda a extensão de suas costas e ele não era louco de reclamar. O maior estava lindo daquela maneira, tão entregue.
Quando sentiu que Sehun se acostumara com seu tamanho, passou a penetrá-lo com vontade e rapidez, arrancando vários “ah, Soo!” e uma série de palavrões por parte dos dois, porque se tinha uma coisa que Kyungsoo gostava era de falar muita palavra de baixo calão durante o sexo.
Sehun estava no paraíso com toda a certeza do mundo. Kyungsoo tocava seu corpo com vontade, descobrindo seus pontos fracos e onde poderia deixá-lo mais excitado. Metia com força e bem fundo, e sua próstata era atingida facilmente, fazendo-o delirar de puro prazer. O mais velho também beijava, mordia e agarrava com força as suas coxas. Ele jamais se esqueceria daquela foda.
Doh saiu de dentro de si, e ele soltou um resmungo, mas logo gemeu manhoso quando fora colocado de quatro na cama e recebeu um tapa bem gostoso em sua bunda.
- Empina pra mim, gatinho. – E Sehun se empinou todo, abrindo um pouco mais as pernas.
Mais uma vez Kyungsoo o penetrou, colocando ambas as mãos em sua cintura, puxando o seu quadril com força para se chocar contra o dele. Os testículos alheios chegavam a produzir um barulho forte contra as suas nádegas, tamanha era a força do impacto entre os seus corpos.
Sehun rebolava, pedia por mais sem se importar se algum vizinho iria ouvi-lo. No momento, sentir o pênis de Kyungsoo dentro de si era o mais importante.
Ele estava quase gozando e Doh pareceu notar, pois segurou o seu membro e o masturbou ao mesmo tempo em que o fodia, exercendo mais pressão sobre sua entrada quente e apertada. O rapaz segurou com força os seus cabelos suados, enquanto pendia a própria cabeça para trás.
- E-Eu não vou mais aguentar... – Kyungsoo ouviu Sehun dizer com um fio de voz. Com a afirmação alheia, ele aumentou (como se fosse possível) a velocidade com que penetrava o mais novo, fazendo a cama ranger e bater na parede.
Não demorou muito para que Sehun gozasse deliciosamente em sua mão, contorcendo-se todinho na cama e chamando-o manhosamente. Em seguida foi sua vez de chegar ao ápice, momento em que envolveu o torso alheio com seus braços e mordeu o ombro do rapaz com força.
Não demorou em sair de dentro do mais novo, tirar a camisinha (amarrando-a e jogando-a do lado da cama) e se deitar ao lado do rapaz, sendo abraçado antes mesmo de poder fazer alguma outra coisa. Claro que ele retribuiu o abraço, dando um beijinho na testa suada do mais novo e fazendo um carinho no braço dele.
Não precisaram falar nada... Apenas aproveitaram aquele momento juntinhos, no silêncio da madrugada, enquanto trocavam algumas carícias.
Sehun caiu no sono primeiro e Doh ficou observando a face corada e os cabelos úmidos bagunçados. Deixou mais um beijo na bochechinha alheia e adormeceu.
***
Quando Sehun acordou no dia seguinte, sentiu falta do corpo alheio ao seu lado, algo que o fez abrir os olhos rapidamente e se sentar na cama. Mas logo se tranquilizou quando ouviu um barulho vindo da cozinha, deduzindo ser Kyungsoo mexendo em alguma coisa.
Seu celular encontrava-se na sala, então não podia verificar as horas. Levantou-se da cama, pegou sua cueca do chão e a vestiu, indo para onde estava o farmacêutico.
- Bom dia, flor do dia. – Kyungsoo disse assim que avistou o maior entrando na cozinha. O cheiro preenchia o ambiente, e na mesa tinha pães integrais, queijo e mais alguns potinhos para acompanhar.
- Bom dia Soo. Acordou cedo, hm? – Sehun esfregava os olhinhos e bocejava, e Doh o achou muito fofo.
- Na verdade, minha intenção era deixar o café da manhã pronto e te acordar – disse enquanto se aproximava, puxando o mais novo para um beijo.
- Bobo – Sehun sorriu envergonhado – Obrigado... – Sussurrou a última palavra.
- Achei que precisaria de um café bem reforçado para recuperar as energias – Kyungsoo brincou.
- Aish... Você não para nunca de me deixar assim! – Abraçou o outro e colocou seu rosto na curvatura do pescoço alheio.
- Vem, vamos comer – Doh puxou ele para se sentar à mesa.
Sehun comeu bastante. Estava morrendo de fome e ainda sentia uma leve dorzinha nas nádegas por causa da noite longa que tivera. Porém, não comentou nada com o mais velho. Preferiu ficar calado antes que ficasse mais vermelho.
A manhã foi repleta de risadas e muitos beijinhos com gosto de café e pão. O veterinário se viu adorando por demais a companhia de Kyungsoo, e isso porque era a terceira vez que falavam bastante. Ele não se importava se os dois tinham sido precoces por terem ido para a cama sem se conhecerem direito. Se nada desse certo, pelo menos tinha conhecido e transado com o seu vizinho.
Sehun ficou para o almoço, e nem precisou que Doh insistisse muito, porque ele queria ficar, e se pudesse passaria o dia inteiro ali. Entretanto ele sabia que tinha suas obrigações, e não podia incomodar o outro... Só que ele tinha gostado até demais do baixinho. Até mesmo repetiram a foda, e no sofá! Não era justo sair como o bobo da história.
De banho tomado pela segunda vez – porque Kyungsoo não o deixaria voltar para o seu apartamento cheirando a sexo – o veterinário ficou mordendo a ponta do polegar, nervoso. Como deveriam se despedir? Rolaria um segundo encontro? Ele não fazia ideia do que viria a acontecer.
- Obrigado pela companhia Hun, foi muito bom.
Os dois estavam de frente para a porta de Doh, olhando um para o outro, perdidos.
- Foi bom sim. Então... – Passou a língua entre os lábios.
- Sehun.
O mais novo olhou para as íris escuras, prestando atenção.
– A gente precisa terminar de maratonar X-Men.
Sehun com certeza não escondeu o sorriso.
– O que você acha?
- Eu acho... – aproximou-se de Kyungsoo na medida em que falava – Que devemos terminar de assistir na minha casa dessa vez.
- Hm, é só me dizer o dia e a hora que eu estarei lá. – Doh sussurrou rente ao seu ouvido, deixando um beijo estalado em sua bochecha.
- Que tal esse final de semana? – Sehun colocou seus braços em volta do pescoço alheio.
- Que tal nós estendermos essa maratona?
- Tipo assistir um filme a cada semana? – Sehun recebeu uma confirmação do menor – Mas e depois que terminarmos?
- A gente acha outra trilogia de filmes e assim vai indo.
Sehun não era tão lerdo para perceber a conversa cheia de segundas intenções. Kyungsoo também queria o mesmo que ele: se encontrar mais vezes. E isso era bom pra cacete.
Foi um tantinho difícil se despedirem, pois Doh ficou lá beijando e beijando aquela boquinha e abraçando o rapaz, falando várias besteirinhas em seu ouvido. Por fim, o veterinário foi para casa, o que não levou trinta segundos por serem vizinhos e morarem na frente um do outro.
Quando chegou, mandou uma mensagem para Minseok, recebendo a resposta imediatamente. E seguiram trocando mensagens durante o resto do dia.
Min: Eu te falei. :)
Hun: Falou mesmo, viado.
Min: E agora vai rolar mais?
Hun: Lógico que sim. Mas confesso que fiquei com medinho, porque eu realmente gostei dele, hyung.
Min: Ih, recém deu e já se apaixonou.
Hun: Cala a boca, Minseok. Não estou apaixonado, apenas muito afim. Falta muito para eu me apaixonar...
Min: Ou talvez mais um mês se encontrando.
Hun: Tu não colabora em nada, né? Puta que pariu.
Min: Tô só falando o óbvio, meu lindo.
Hun: Agora vou dormir. Amanhã de manhã o Soo vai me levar para o trabalho. (olhinhos)
Min: A SITUAÇÃO TÁ MAIS RÁPIDA DO QUE EU IMAGINEI, MEU DEUS!
Hun: Af... É porque ele trabalha longe e vai de carro, aí ele me ofereceu carona... Só isso!
Min: Daqui a pouco ele tá comprando cafezinho pra ti, e etc.
Hun: Boa noite, hyung! (carinha brava e um coração vermelho)
Min: Vai lá, novinho. Boa sorte com teu novo boy. Não se esquece de apresentar ele pra mim hein?! Por foto não é o bastante. Ele tem que pedir a minha benção.
Hun: Vai cagar.
Min: Caguei ontem. Boa noite, Hunnie. (carinha piscando)
***
No outro dia, Sehun se encontrou com o farmacêutico no corredor entre seus apartamentos, dando um selinho rápido no mesmo devido a sua timidez. E os dois seguiram de mãos dadas (isso mesmo) até o estacionamento do prédio.
Doh, como prometido, levou o veterinário até o trabalho, não perdendo a oportunidade de beijá-lo antes de infelizmente se despedirem.
Sehun de fato era uma pessoa muito sortuda. Além de ter ganhado o apartamento de seu irmão, de quebra conheceu o vizinho careca e musculoso. Quem sabe, ambos não se gostariam o bastante para no futuro terem algo a mais? Sehun pouco se importava com o tempo, estava afim e tinham mais que aproveitar as coisas.
No fundo ele sabia que os dois poderiam dar certo. Kyungsoo era legal pra caramba, os dois tinham muitas coisas em comum, e de brinde se combinavam bastante na cama. O que poderia dar errado, né? Isso mesmo, nada! Pelo menos nada segundo o próprio Oh Sehun.
Dyo: Hun, cê sabe que o síndico mora no andar de baixo, né?
Sehunnie: Puta que pariu!
Dyo: KKKKKKKKKKKKKKK.
Sehunnie: Não ri de mim! Ele deve ter ouvido tudo!
Dyo: Deve? Ele com certeza ouviu muito mais do que o permitido.
Sehunnie: Não vai fazer nem um ano que me mudei e já serei expulso.
Dyo: Nah, eu não deixo, relaxa.
Seunnie: Promete?
Dyo: Prometo.
E lá estava Sehun, sorrindo feito bobo por causa do mais velho, esquecendo-se de que provavelmente tomaria uma bronca do síndico pelo barulho.
16 notes
·
View notes
Photo
Partida
“A partida foi rápida, as luzes do comboio desapareceram, um minuto depois já nem o barulho das rodas se ouvia, como se tudo fosse um conluio para acabar o mais depressa possível com aquele devaneio doce, aquela loucura.”
Anton Tchekhov, “A Senhora do Cãozinho”; pintura de Paul Delvaux.
29 notes
·
View notes
Photo
A Vila Caminhando pelo interior, uma curadora chegou a uma pequena vila que era cortada por um riacho. Percorrendo ao longo da margem do riacho, percebeu que não havia ninguém pelas ruas. Um silêncio estranhamente opressor dava a impressão de total abandono. Sinal que havia algo errado. De repente, ela avisou uma linda menininha, que andava sozinha procurando seu cachorrinho. A senhora então perguntou: Onde está todo mundo? Porque você está sozinha? Ela então respondeu triste e chorosa: Estou procurando meu cãozinho. Mas onde estão seus pais e os outras habitantes? Estão todos doentes. Trancados em suas casas. Então, um cãozinho apareceu ela menina ficou feliz. A curadora resolveu averiguar o que estava acontecendo. Foi de casa em casa e todos os habitantes estavam fechados em suas casas, muitos acamados. E mais estranho, todos com seus rostos pintados de preto, com carvão. Ao entrar nas casas, as pessoas parecisam desoladas, e assim avistarem a menina, pediam que elas fossem embora. Estranhando tal atitude, conseguindo entrar numa das casas, sem a menina, perguntou aos moradores, o que havia acontecido. Lhe contaram que a vila toda adoeceu, depois quer a linda menina se mudou para lá. Todos tinham medo dela! A curadora investigou e fez o que sabia, usou todos o seu conhecimento para curar toda a vila. Quando todos estavam curados, quiseram expulsar a menina e sua família. Elas tinham hábitos diferentes. Só eles não tinham ficado doentes. Mas a curadora perguntou a eles: Vocês não aprenderam nada nesse tempo em que estiveram confinados? Onde está a verdadeira doença? Porque vocês adoeceram? Continua... https://www.instagram.com/p/CFcOOv0HcoS/?igshid=qznxcbcrt63q
0 notes
Photo
ADOTE FELICIDADE Mais uma história triste: uma senhora, em Madame Machado, tinha 6 cães. A senhora está ha3 1 ano internada no HCC, por conta do AVC que teve, e como morava só , um vizinho a viu caída na varanda da casa e a socorreu. Agora esta senhora pegou Covid. Não sabemos se vai resistir. Estamos numa campanha para doar os cães dela. Que como sempre, a família não quer. Algodão foi adotado pela minha amiga Sonia, esta felicíssimo no novo lar. Um outro cãozinho, a Dra.Vanessa, veterinária, adotou. Eu estou divulgando Popó, com 1 ano e meio ,e Príncipe com 8 anos. Não estão castrados, vacina só a raiva dada pela prefeitura. Então, quem pode dar lar temporário? Quem pode adotar? Contato comigo. Marcia 21 987277473 🐾 🐾 🐾 Siga @irmaoanimal / @carlamaduro #irmaoanimal #educarepreciso #dogs #love #animais #pet #cat #dog #lovecats #lovedogs #conscientizacao #cuidadoscompet #cuidadospet #adote #animals #colabore #petropolis #loveanimals #lovecat #instacat #instadog #catioro #instapic #cute #instagood #castrareumatodeamor #covid19 #coronavirus #coronavírus https://www.instagram.com/p/CB8-RP-nsdX/?igshid=io7bbey36n86
#irmaoanimal#educarepreciso#dogs#love#animais#pet#cat#dog#lovecats#lovedogs#conscientizacao#cuidadoscompet#cuidadospet#adote#animals#colabore#petropolis#loveanimals#lovecat#instacat#instadog#catioro#instapic#cute#instagood#castrareumatodeamor#covid19#coronavirus#coronavírus
0 notes
Text
A Cacofonia na Vida de Lukão: Capítulo 5
| Confira todos os capítulos AQUI |
Anterior: | A Cacofonia na Vida de Lukão: Capítulo 4 |
Burburinho no interior do casarão. Filhas, noras e netas conversam e se ocupam na cozinha. Crianças riem, choram e correm pela casa.
- Que paraíso é esse? - Exclamou Lukão boquiaberto. - Eu pensei que já tinha visto tudo.
Envolvidos nessa balburdia generalizada, ninguém estava percebendo a presença do Ananísio, filho de Persiliana e Valdelei. O pirralho estava encostado no batente da porta da cozinha, exibindo sua cara de enfezado e de poucos amigos, justamente porque estavam demorando para lhe dar atenção.
- Quicosequé, pimpolho?
- Tékinfim arguém miviu aqui! - Respondeu o fedelho.
- Pindura o picuá no prego da parede e vem parabenizá sua prima que paquerou um pretendente primoroso.
O menino veio e cumprimentou timidamente Sarita, que ficou até meio desajeitada com as referências da tia, mas Lukão nem se importou e ainda elogiou a mulher pela sequência de Pes.
- Deve ser influência do nome dela - sugeriu Sarita.
- Pois bem. O que é quitim comóda? - Intrometeu-se o pai.
- Arguém docêis viro o Zé Orêia? - Perguntou o menino.
- Como é que é? - Exclamou Lukão. - Quem é Zé Orêia?
- É u cachorro qui eli mais gosta daqui - interveio o pai, Valdelei.
- E por que o cachorro tem esse nome? - Indagou o curioso Lukão.
- Prumódiquequi qui o viralata pegô a duença do carrapato numa oreia - explica o pai. - Fizémo o qui pudémo cum remédio di erva, mais memo assim a duença comeu parte da oreia isquerda do coitado. E como o fio sempre foi muito apegado com o bichinho, quando ele somi um poco ele sente farta.
Sarita e Lukão se prontificaram a ajudar procurar o cãozinho, mas... Só mais tarde. Porque será?
Enquanto Lukão e Sarita desfrutavam de raro momento de silêncio, sentados os dois numa mesma cadeira de balanço, olhavam para a enorme lua cheia e prateada e respiravam o ar puro dos “cafundó” interiorano.
- Caraca, meu! Nunca pensei que ia passar por momentos como este - exclamou o jovem da cidade grande. - Quanta gente num lugar só! E todos falando quase que ao mesmo tempo. Quanta simpatia, espontaneidade, simplicidade. E quantas palavras novas - desabafou.
E foi só falar em “palavras”, quem que foi se achegando de mansinho? A dona Persiliana.
- Oi, tia! - Disse Sarita pra quebrar o gelo. - Não se acanhe. Chega mais pra perto da gente.
- Eu já se lavei os pé, as cara e os braço aqui na casa da sogra memo - disse a jovem senhora, demonstrando um pouquinho de cansaço. - Agora vô mi recoiê pra minha casinha, puxá um ronco, qui amanhã é outro dia. Eu só passei aqui pa vê si o casarzinho di namorado qué mai arguma coisa.
- Não, tia - antecipou-se Sarita. - Estamos bem. Daqui a pouco a gente também vai descansar.
- Mas eu quero! - Interferiu Lukão.
- Tá veno? Ele qué - disse a mulher. - Quéuquê o moço?
- Eu quero saber o que significa “picuá”.
- Ah! Que alívio - suspirou Persiliana. - Picuá é uma sacola di pano di saco de açúcar, feita a mão memo, pindura nos ombro e carrega o qui quisé drento. Quando a gente era criancinha piquena lá na cidade, chamava isso de embornal. Aqui chama di picuá.
- Que interessante - disse Lukão entusiasmado. - Vocês são umas figurassas. Meu dicionário particular já está repleto de novas palavras. E eu estou me divertindo muito com jeito peculiar de vocês falarem.
- Bão. Amanhã tem mais. Hoje foi só o primeiro dia das visita. Intão agora eu vô sino. Banoite poçêis.
- Ela concordou que você está se divertindo com o jeito de se falar por aqui, quando disse “hoje foi só o primeiro dia”. “Amanhã tem mais”. Pra você é quase tudo novidade. Mas... Na real... Um dia após o outro... Aqui todo dia é sempre assim... Sempre igual... É danado di bão - completou Sarita.
Na manhã seguinte, Sarita pergunta à Perciliana:
- Ainda não vi o Desidério, seu filho. Cadê ele?
- Vem vino ali - respondeu ela. E continuou: - Antisdonti o Dê inventô di raspá a barba. Era a primera veis. O tonto num sabia mais tamém num preguntô pa ninguém e passô tarco, água verva e arco dispois di raspá. Tudumaveis. Maiardeu dimais da conta, viu prima!
- Disse Desidério, alisando o rosto liso e vermelho de tanta irritação.
Notando a falta de alguns primos, Sarita continua perguntando. Desta vez foi para o Ovídio.
- Ainda não vi meu primo Jorgival. Ele não está na propriedade?
- Tá servino o tirdiguerra. Antisdonti ele tava di forga iveio aqui, mais jafoicimbora puquarter.
Sidinélia deixou o que estava fazendo, entrou na conversa e também sapecou mais uma das suas:
- Eu queria apresentá o Gildo Mauro, meu fio do meio, pro moço aí, meu futuro genro, disse Sidinélia, mãe do tal Gildo Mauro e de Sarita. Só qui o disgranhento caipira num qué dijeinenhum saí dibadacama.
Com muito custo conseguiram tirar o molecão escondido embaixo da cama. Ele chegou perto da roda de gente, mas estava mancando e com um dos pés enfaixado. Espantado, o avô quis saber:
- Uai, sô! Tá manquitola prumódique?
- Ele feis um baita corte no pé, interferiu dona Deolinda.
- E adonde foi isso? - Insistiu o senhor Adevantel.
- No pé, vô! - Respondeu Gildo. - Num tá veno quitá infaxado?
- Eu vi, besta. Tô perguntano adindonde qui foi.
- Ele pulô di cima do paió di mio, entregou o primo Sinoel. Aí ele perdeu o equilíbrio, trupicô nas inxada qui tava no chão i deu nisso.
- Coitado! - Disse, penalizada, a irmã mais nova, a Sarita. - E passou algum remédio? Pode dar tétano.
- A mãe dele ponhô pópatapataio - amenizou dona Deolinda.
- O que é isso? - Sussurrou Lukão no ouvido de Sarita.
- Sulfa - respondeu ela, calmamente.
Logo após o opulento café da manhã, Sarita e Lukão decidiram dar um passeio pelas dependências do sítio. Ao passarem defronte a casa de Francismar, viram o garoto Demervaldo sentado na calçada, com um gatinho no colo acariciando-o seguidamente.
- Olha só! - Surpreendeu-se Lukão. - Pelo jeito esse também gosta de animais.
- É memo - respondeu a mãe do menino que estava debruçada na janela. - Ele é carinhoso só cusdaqui. Cusdifora num é tanto assim.
Duas casas pra frente, dona Sidinélia berrava da porta de sua casa:
- Ô mulecada fidumaégua! Num tá iscuitano qui tão bateno parma?
Gaudêncio, Clênia e Ananísio, que brincavam de pique descontraidamente, correram em direção à porteira para ver quem tinha chegado. Voltaram no mesmo pé e foram até onde estava dona Sidinélia.
- Tia, tem um ómi e duas gente lá na portera.
- Intão vai lá, acorda seu vô e fala prele i atendê.
O octagenário, como de costume, estava esburrachado na cadeira de preguiça, sob a frondosa e velha paineira, cochilando pesado que até roncava. As três crianças ficaram paradas por alguns minutos, observando o avô que dormia, quando Clênia perguntou:
- O vô sempre ronca assim?
Gaudêncio se antecipou para dar a resposta:
- Não. Só quando ele dorme.
Seu Adevantel despertou do adormecimento devido a fala das crianças e de imediato se apercebeu da voz que vinha da porteira:
- Ô di casa! - Bradava uma voz de homem.
- Ô di fora - respondeu em igual altura o senhor Adevantel. - Se achegue cá pa drento.
Enquanto a pequena família adentrava as dependências da fazenda, Sarita e Lukão, que não estavam muito longe, observavam atenciosamente a tudo. À esta altura, vários membros da família já rodeavam o casal, a fim de recepcionar os visitantes. Os cônjuges, de idade que não passava muito dos 40 anos, e um adolescente na faixa dos 14 anos, aproximaram-se da cadeira do senhor Adevantel e, gentilmente, o homem tomou a iniciativa.
- Bom dia a todos! Meu nome é Amancio. Esta é a minha esposa Rejuvênia e o garotão é nosso filho Walter Disnei.
- Muito prazer im conheçê oçêis - retribuiu dona Deolinda, fazendo as honras da casa.
- E a qui devemos a honra da visita? - Perguntou o senhor Adevantel, sem levantar da velha cadeira.
- É que nós compramos, há pouco tempo, umas terrinhas aqui nas proximidades formamos um sitiozinho e de quando em vez a gente sai pra conhecer os vizinhos.
- Apois faz muito bem oçeis. É sempre bão conhecê os próximo. Nóis tamém temo muito gôsto im conheçê oçêis - completou o velho.
- Qual é mesmo vossa graça? - Interveio o filho mais velho, Dirlei.
- Meu nome é Amancio - disse.
- Amancio do que? - Insistiu Dirlei.
- Amancio Toro - respondeu o homem.
- O senhor é parente do Benício? - Indagou Israel França, genro do senhor Adevantel.
- Qual Benicio? Quis saber o recém chegado.
- O Benicio Del Toro - completou Israel.
- O ator de cinema? Quem me dera fosse!
Dona Rejuvênia estava encantada com a conversa e com a movimentação dos presentes, que não se conteve e interferiu para perguntar:
- Dona Deolinda, qual o tamanho da sua prole?
A anciã ficou encabulada com a pergunta, puxou Lukão pelo braço e cochichou no seu ouvido:
- Ela tá mi xingando?
- De jeito nenhum. Ela quer saber o tamanho da sua descendência: filhos, filhas, netos etc.
- Ah! São 6 prole e 19 prolinha.
E assim, entre umas baforadas e outras no velho cachimbo, seu Adevantel distrai os hóspedes numa descontraída e bem humorada prosa. A hora passou rápido e o estômago do octagenário ronca, avisando-o que já é tempo de encher a pança. As mulheres, na sua maioria, já estavam com o umbigo encostado no fogão, preparando o almoço.
- Jáquitaqui fiqui ! Foi o modo que o anfitrião achou para convidar a família visitante participarem do almoço.
Em poucos minutos a grande mesa já estava repleta de panelas e caldeirões e todos se enfastiaram de tanto comer. Um pouco mais tarde, quando o astro rei já delineava seu trajeto rumo ao poente, os visitantes agradeceram a hospitalidade de todos os moradores, despediram-se e se foram. Em seguida, parte dos familiares se preparavam para o banho da tarde.
Lukão, que de tudo participava ativa e atentamente, percebeu alguma agitação numa das casas da colônia e foi até lá com Sarita para conferir. Chegando na residência de Osvânia e Nairton, viram Orlanete correndo atrás do irmão mais novo ao redor da casa, com a finalidade de levar o pequeno no tanque para lhe dar banho.
- De vez em quando ele tem esses tiques - gritou a irmã, cansadíssima.
Percebendo a resistência do menino ao banho, Sarita e Lukão resolveram interromper o corre-corre para saber o real motivo de tanta recusa.
- Gaudêncio, porque não quer tomar banho? - Perguntou Sarita.
- Eu quero tomá banho - esclareceu o pirralho. - Só num quero que a Nete me lava.
- E quem você quer que te dê banho? Interferiu Lukão.
- Eu quero a vovó - insistiu a criança.
- E porque a vovó? - Perguntaram os jovens quase que ao mesmo tempo.
- Purquê a vovó treme! - Elucidou o danadinho.
Todo esse encantamento apreciado pelas visitas no primeiro dia do feriado prolongado, será repetido basicamente no segundo dia, no terceiro e nos quantos mais eles ficarem ali, pois, esse modo ser dos familiares residentes nesta colônia caipira, é o cotidiano deles.
Uns falam, outros riem, todos cantam, gritam, choram... Tudo praticamente ao mesmo tempo. Como eles mesmos costumam dizer, tudo junto, misturado.
- Deolinda, minha véia, bora lá na cozinha? - Convidou o marido. - Vamo passá um café bem gostoso?
- Vamintão - concordou a esposa anciã, dispensando a inseparável cadeira de preguiça.
Lukão se prontificou em acompanhá-los, não só para demonstrar ares de bom moço como também para aprender palavras novas.
Então, na cozinha...
- Vopô a água pa frevê - começou seu Adevantel.
- Pópoupó? - Perguntou dona Deolinda.
- Lascabrasa, respondeu.
- Moço. Mindê aquela ladiaçuca qui tá incima du armaro - pediu ao Lukão.
Não muito tempo depois... Pronto! Lá vem os três trazendo o café da manhã. Lukão carregava um gigantesco bule com café, seu Adevantel trazia um enorme bussoloto com leite e dona vinha atrás com uma cesta lotada de pão com manteiga. E assim começou a rotina deles. Todos fazem alguma coisa. Todos falam. E todos comem, fartamente.
Depois do almoço do sábado, os rapazes resolveram disputar um mini campeonato de bocha, um esporte meio parecido com o boliche, só que com bolas de madeira, tudo construído por eles mesmos, na própria fazenda. Seu Adevantel e dona Deolinda referiram tirar “uma pestana” na velha cadeira de preguiça, na sombra da árvore, enquanto algumas crianças brincavam... Enquanto algumas mulheres já iniciavam os preparativos para a noite de sábado.
Lukão e Sarita optaram por uma caminhada de relaxamento pelas ruelas da propriedade. Numa das casas, dona Sidnélia se encontrava sentada defronte um enorme espelho, caprichosamente instalado em seu quarto, manuseando um “arsenal” de cosméticos. Dependurado na janela, do lado de fora, Sinoel espionava a tia que se maquila incessantemente. Bem próximo dali, o casal de namorados interrompe a caminhada para apreciar a cena. Em dado momento o menino resolve quebrar o silêncio.
- Tia, purquê a sinhora si pinta tanto?
- Ué! Pá ficá bunita!
- Intão purquê qui num fica?
Dona Sidnélia levantou da cadeira esbravejando, correu atrás do moleque, mas não conseguiu alcançá-lo. Em seguida voltou e continuou com sua maquiagem.
A família inteirinha, sem nenhuma exceção, tinha conhecimento que Lucrécia e Sidinélia eram chegadas numa cachaça. Todo sábado à noitinha as duas se aprontavam e iam para a cidade afim de participarem de festas, bailes e quermesses. Aproveitavam da animação, tomavam todas e, invariavelmente, voltavam para casa trançando as pernas e cantando alegremente. Algumas mocinhas e rapazolas também saiam da fazenda para encontrar os respectivos namorados. Tudo isso com a anuência dos pais e sem esconder nada de ninguém. Alguns preferem descansar, outros optam por ficarem conversando. Foi o que fizeram Lukão e Sarita, que escolheram ficar por ali. Após o jantar, sentaram na enorme escada de madeira, que dá acesso ao alpendre do casarão e conversaram sobre a agitação do dia e também fizeram planos para o casamento deles.
Na casa ao lado, moram Lucrécia, o marido Ovídio e os 3 filhos. Uma grande casa com 3 quartos, sala cozinha, banheiro e uma varanda ao redor. Uns chamam isso de varanda, outros alpendre, terraço ou área. Num dos quartos da casa estavam 2 filhos de Lucrécia. Jorgival e Liromar, que não saíram pra lugar nenhum e ficaram conversando e vendo revistas. Passava um pouco de meia noite. Lukão, Sarita e boa parte da família já se recolhera.
Nesse momento Lucrécia e Sidinélia chegaram, trazidas por algumas conhecidas da cidade, bastante embriagadas. Lucrécia subiu com dificuldades a escada de madeira que dá acesso ao terraço. No terraço ela desequilibrou-se e levou o maior tombo. Os dois filhos que estavam no quarto, mas acordados, ouviram o estrondo e comentaram:
- Xiii mano! A mãe caiu na área - disse Liromar.
- Bão. Si caiu na área é pênalti - respondeu calmamente o Jorgival.
Próximo: | A Cacofonia na Vida de Lukão: Capítulo 6 |
0 notes
Quote
IX Uma mulher resplandecente e tímida "Quando eu nasci, uma estrela dançava", diz uma heroína de Shakespeare. É preciso sempre voltar a ele quando se trata das inglesas. Se consideramos a profundidade cintilante da obra de Virgínia Woolf, sua leveza ancorada numa espécie de céu abstrato, as pulsações geladas de um estilo que faz pensar alternadamente no que atravessa e no que é atravessado, na luz e no cristal, concluímos que essa mulher tão sutilmente singular nasceu talvez no minuto preciso em que uma estrela se punha a pensar. Sem dúvida, essas virtudes mágicas e um tanto frias dos astros devem-se em parte à distância em que nos achamos deles: basta chegarmos perto desses brilhantes solitários para percebermos que seu clarão é também uma chama, e que só cintilam com a condição de se deixarem consumir. As poucas páginas que se seguem terão atingido seu objetivo se eu conseguir persuadir o leitor do intenso sentimento de humanidade desprendendo-se de uma obra onde só é permitido ver, de início, um balé admirável oferecido pela imaginação à inteligência. Filha do eminente crítico Leslie Stephen, vinda de uma família onde paira a grande lembrança de Thackeray, orgulhosa também de uma gota de sangue francês a ela transmitida por uma avó emigrada no curso da Revolução, essa mulher de claros olhos azuis e imponentes cabelos brancos que evocam involuntariamente todas as comparações a que só ela poderia conferir frescor — geada, prata e auréola -, essa mulher viu inclinarem-se sobre seu berço todas as fadas da literatura inglesa: enumeremo-las, essas fadas menores que não apenas determinam o gênio, mas se oferecem fielmente para servir-lhe de guia nas passagens difíceis: é de início o sentido cordial da vida cotidiana que tornou tão importantes os romancistas da Inglaterra vitoriana; a seguir, temos a erudição natural, tão arejada quanto possível, que dá aos grandes ensaístas da Inglaterra o ar de passear pelo interior das obras-primas, tão à vontade em seu saber quanto os turistas ingleses vestidos de flanela cinzenta sob as colunas do Partenon. Finalmente, não devemos esquecer a última dádiva das fadas benévolas, vinda talvez especialmente da França e do século XVIII aos quais Virgínia se liga por vínculos vagos e belos: o senso de harmonia das proporções e a lucidez até à graça. Por mais ricos que sejam, porém, tais dons não bastam para o dote de um poeta: há outro, mais misterioso, o de transfigurar a realidade, ou fazer cair suas máscaras. A menina que contemplava por entre a bruma da tarde inglesa os barcos de pesca retornarem ao porto já sabia, como Rhoda de As ondas na qual a autora utilizou suas lembranças, que as velas dos barcos ao pôr-do-sol são também pétalas de flores, e que as pétalas de flores conduzidas à superfície do riacho por um dia de tempestade também são autênticos barcos. Só mencionarei aqui três ou quatro dos principais romances de Virgínia Woolf, já conhecidos do leitor francês, ou prestes a sê-lo: Mrs. Dalloway, Orlando, Passeio ao farol e este As ondas, que introduzo no presente momento. Virgínia Woolf assume em seu país um papel revolucionário; com justiça, ante suas obras que constituem ao mesmo tempo o resultado de um grande passado literário e um esforço pessoal de revolta contra um legado um tanto pesado, ela tem sobretudo a noção das profundas diferenças que a separam de seus antecessores. "Senhora Woolf, dizia solenemente o romancista George Moore à jovem Virgínia, "acredite-me, jamais conseguirá escrever um bom romance completamente desprovido de tema." Foi contra a tirania do tema romanesco que Virgínia Woolf se rebelou desde seus primeiros livros, revolta que, muito mais do que uma simples renovação técnica, é a afirmação de um ponto de vista sobre a vida. Em As ondas, Bernard, o romancista nato, tem desde a infância o dom de inventar histórias que encantam e arrebatam os ouvintes; sabe, porém, com seus botões, que essas histórias tão bem construídas são apenas cortes arbitrários, retirados da própria vida que nos escapa por sua lentidão, monotonia e imensa complexidade. Na obra de Virgínia Woolf, assim como na da maior parte dos romancistas contemporâneos, o indispensável elemento de imprevisto reporta-se à apresentação dos objetos, e o interesse se desvia dos sentimentos que vêm à tona para fixar-se nos estados que duram, e no próprio tempo em que se estabelece essa duração. Virgínia Woolf foge do grande assunto por uma sensível dilatação dos temas romanescos, que se tornam menos precisos por se exibirem em períodos mais longos, ou fazendo com que sejam refletidos na visão espantada de um espectador situado muito longe-o cãozinho Flush, por exemplo, no livro do mesmo nome, e através do qual assistimos aos amores do casal Barret- Browning. Flush parece estar ali para provar-nos que se deve estabelecer uma distância entre os acontecimentos romanescos e o observador que narra, o ponto de vista do cão valendo o mesmo que o ponto de vista de Sirius. Da mesma forma que algumas gotas de álcool dissolvidas num líquido faz com que percam a violência, subsistindo apenas no estado de uma vaga bruma opalina, a gota de paixão tende a se dissolver nas grandes extensões de Tempo sob a forma de patéticas lembranças, esperanças, veleidades ou obsessões confusas, e sobretudo a se transformar em poesia. De Mrs. Dalloway a Orlando, de Passeio ao farol a As ondas, Virgínia Woolf, no esforço bergsoniano de introduzir a duração em sua obra, aproximou seus romances de um gênero que lhe é particularmente caro e que sempre teve um lugar de honra na literatura inglesa: a biografia. Entretanto, dirão, tal romance de Dickens ou Thackeray, por exemplo Feira de vaidades, exibe igualmente uma forma quase biográfica, e oferece poucas relações com a obra nova que nos ocupa. Isso porque os grandes romances do século XIX que acompanham um personagem da infância à velhice ligam-se sobretudo à biografia do personagem, tratando-se principalmente de biografias do Ser, de entidades infinitamente mais sutis e secretas que as circunstâncias de sua vida, ou de sua própria pessoa moral. A noção de personagens (caracteres) não está ausente da obra de Virgínia Woolf, mas eles nos causam frequentemente o efeito de máscaras leves, semi-humorísticas, colocadas de viés em seus rostos: como o termo o indica, caracterizam o Ser, à maneira de vestes que lhe seriam externas sem lhe serem estranhas. A obra cintilante e vaga de Virgínia Woolf situa-se aqui nos antípodas de Marcel Proust, que chega à pulverização completa do Ser, mas com quem os personagens atingem sua forma-tipo de manias e delírios. O problema da pessoa e do tempo preocupou todos os grandes escritores do após-guerra. No entanto, enquanto Pirandello e Proust nos propõem a noção de um Tempo-Espaço, que permite fazer o circuito das pequenas figurinhas humanas, ou de um Tempo-Acontecimento, cuja ação física termina, no sentido próprio do termo, por degradar os convidados da Princesa de Guermantes, é um Tempo- Atmosfera que enche as páginas dos livros de Virgínia Woolf, fazendo com que seus personagens se banhem como plantas numa duração vital diferente da nossa, necessária a seu equilíbrio interior. Em Mrs. Dalloway, tal tempo não ultrapassa os limites de um dia, mas este dia típico só nos parece tão poético porque reflete e condensa milhares de dias passados ou futuros. Em Orlando, pelo contrário, três séculos da história inglesa se reduzem aos trinta anos da vida de um rapaz semifeminino que atravessa as épocas e os sexos com um à-vontade de assaltante e fantasma. Em Passeio ao farol, na ausência de qualquer personagem, o próprio Tempo se faz sentir na casa abandonada como a presença de uma corrente de ar. Finalmente em As ondas, que vem a seguir, os poucos personagens não são mais que gaivotas à beira de um Tempo-Oceano, e as lembranças, os sonhos, as concreções perfeitas e frágeis da vida humana fazem o efeito de conchas à beira de majestosos vagalhões eternos. As ondas é um livro de seis personagens, ou antes, de seis instrumentos, pois consiste unicamente em longos monólogos interiores cujas curvas se sucedem e se entrecruzam com uma segurança de desenho que lembra a Arte da fuga. Nessa narrativa musical, os breves pensamentos da infância, as rápidas reflexões dos momentos de juventude e camaradagem confiante assumem o lugar dos alegros nas sinfonias de Mozart e cedem cada vez o lugar aos lentos andantes dos imensos solilóquios sobre a experiência, a solidão e a idade madura. Na verdade, tanto quanto uma meditação sobre a vida, As ondas se apresentam como um ensaio sobre o isolamento humano. Gira sobre seis crianças, três meninas, Rhoda, Jinny e Suzanne, e três meninos que vemos crescer, diferenciar-se, viver e finalmente envelhecer. Uma sétima criança, que não toma a palavra e da qual sempre nos apercebemos através dos outros, é o centro do livro, ou pelo menos o seu coração. Esse Perceval, rodeado no colégio e nos jogos por um amor e uma admiração infantis, parte para juntar-se a seu regimento na Índia, e os seis jovens amigos se reúnem à volta dele para um jantar de despedida. Posteriormente, sabe-se de sua morte, ocorrida lá longe, através de uma queda de cavalo; vemos então reagir diferentemente, diante da dor, os seis seres para os quais Perceval continuará sendo sempre a imagem dos momentos mais ensolarados da vida. Cada um deles dará, dali em diante, uma resposta cada vez mais pessoal às perguntas colocadas pela própria existência: Jinny escolherá o prazer, Neville o exercício da inteligência e a busca ardente de outros seres que serão reflexos do Perceval perdido; Suzanne, a jovem Deméter, encontrará a plenitude nas lentas tarefas da maternidade e no contato cotidiano com a terra e as estações; Rhoda e Louis se refugiarão nos sonhos; Bernard continuará a desfiar preguiçosamente, como um bicho-da-seda, o casulo de sensações e pensamentos que lhe acolchoam o universo; e finalmente, certa noite, reencontraremos esse mesmo Bernard, mais pesado com a idade e o bem-estar, refletindo sobre sua vida ao sair de um restaurante. Sente à volta dele a proximidade da Morte, que muitos anos antes, na Índia, desmontou Perceval e quebrou-o contra o solo. Entretanto, na exaltação de seu coração ainda quente, o velho senhor um tanto ridículo aceita combater a inimiga invisível, e lhe lança um desafio. A Morte pode vir; mas não impedirá que esse ser vivo se sinta até o final como parte integrante da vida; aniquilado, ainda assim não estará vencido. Não se trata de um triunfo da imortalidade sobre a morte, e sim de um sentimento intenso do momento presente vivido. O Tempo, que dali em diante toma para Bernard essa forma definitiva e fúnebre, é vencido com a ajuda de uma sucessão de instantes cuja riqueza e ardor constituem, não importa o que aconteça, a aquisição humana. Pode-se certamente ter reservas ante esse universo romanesco de onde toda violência, todos os impulsos instintivos, toda vontade que não seja intelectual são excluídos. Tais censuras, porém, levam a reclamar-se de Turner o ardor de Delacroix, e a nos espantarmos ante a ausência dos quadros de batalha na obra de Chardin. Os personagens de As ondas não são menos humanos em sua delicadeza quase translúcida que os ardentes obcecados de Lawrence ou os heróis grosseiros e patéticos do Ulisses de Joyce: são apenas mais raros, menos invasores, e tranquilizados apesar de si mesmos pelos minutos de contemplação quase mística que Virgínia Woolf lhes concede, mantendo essa obra no entanto tão desiludida aquém da morte e do nada. Em As ondas, a admirável coloração das naturezas-mortas e das paisagens lembra um certo tipo de pintura moderna, mas com uma poesia secreta, uma serenidade profunda, um sentido mágico do encantamento das coisas mais aparentado à obra de Vermeer, tão cara também a Marcel Proust, cujo estilo entretanto evocaria mais os métodos de Degas. Esse encanto quase idílico da cor se junta frequentemente nos pintores à preocupação com os valores místicos, traindo o mesmo gosto das vibrações únicas, dos minutos eternos que, como vimos acima, o mundo de Virgínia Woolf era feito. Talvez seja preciso recorrer aqui à última frase pronunciada ao fim de Passeio ao farol pela pobre Miss Briscoe, cuja terna existência foi gasta a pintar telas bastante medíocres que não consegue jamais terminar: "Afinal de contas", murmura ela, pensando em sua vida tão triste e no entanto tão pouco decepcionante, "afinal de contas, tive minha visão..." Esse termo será reencontrado de um modo menos épico no último monólogo de Bernard em As ondas. Como em O tempo reencontrado, mas sem pôr a ênfase na ressurreição do passado, como nos Cadernos, de Rilke, onde a angústia humana se apazigua na pacífica contemplação das coisas, os personagens um tanto insignificantes da romancista inglesa encontram nesses breves instantes de percepção da vida e de identificação com ela a justificativa da existência tão necessária quanto o pão e o sol. Esse pensamento tão místico da humilde Miss Lily pode servir de conclusão à obra de Virgínia Woolf, e é estranhamente significativo que seja o ponto de vista de pintor. Há poucos dias, na sala de visitas vagamente iluminada pelo fogo onde Virgínia Woolf teve a bondade de acolher-me, eu olhava recortar-se na penumbra esse pálido rosto de jovem Parca um tanto envelhecido, mas delicadamente marcado pelos sinais do pensamento e da lassidão, e me dizia que a acusação de intelectualismo é frequentemente feita às naturezas mais finas, às mais ardentemente vivas, obrigadas por sua fragilidade ou excesso de forças a recorrer sem cessar às duras disciplinas do espírito. Para tais seres, a inteligência é apenas uma vidraça perfeitamente transparente atrás da qual olham atentamente a vida passar. E enquanto Virgínia Woolf, dirigindo a conversa para o estado presente do mundo, confessava-me suas inquietações e tormentos, que são os nossos, e onde a literatura ocupava um lugar pequeno, eu pensava secretamente que nada está completamente perdido enquanto admiráveis operários como essa escritora continuarem pacientemente, para nossa alegria, sua tapeçaria cheia de flores e pássaros, sem jamais misturar indiscretamente à obra a exibição de suas fadigas e o segredo dos sumos frequentemente dolorosos onde as belas lãs foram mergulhadas. 1937 Traduzi para o francês As ondas, penúltimo romance de Virginia Woolf, e não o lastimo, pois dez meses de trabalho foram recompensados por uma visita a Bloomsbury e duas breves horas passadas junto a uma mulher ao mesmo tempo tímida e resplandecente, que me recebeu num quarto invadido pelo crepúsculo. Há sempre um engano quando se trata de escritores contemporâneos: ou são superestimados, ou denegridos. Entretanto, não creio errar quando situo Virginia Woolf entre os quatro ou cinco grandes virtuoses da língua inglesa, e entre os raros romancistas contemporâneos cuja obra tem alguma chance de durar mais de dez anos. Chego mesmo a esperar que, apesar dos sinais em contrário, haja ainda no ano 2500 alguns espíritos alertas que saboreiem as sutilezas dessa arte. Porque pensei hoje, especialmente, num pequeno livro pouco conhecido, publicado por Virginia Woolf em 1930: Street-Haunting (título que se poderia traduzir para o francês, sem muita exatidão, Le Rôdeur des rues de Londres, O perambulador das ruas de Londres). O livro nos faz assistir à onda volúvel, mas de nenhum modo confusa, de imagens, sensações e lembranças invadindo o espírito de um homem que passeia e se oferece à compra de um lápis como objetivo para longo passeio ao lusco-fusco pelas ruas de uma grande cidade magicamente maquilada pelas luzes e a chegada da noite. Diremos que esse frágil pretexto é singularmente woolfiano, e que os temas de Virginia frequentemente são apenas os seus lápis? Devemos lembrar que sua arte é de essência mística, ainda que ela hesite ou se recuse a dar um nome a esse misticismo. Para ela, o olhar é mais importante que o objeto contemplado, e nesse vaivém do lado de dentro para fora que constitui todos os seus livros, as coisas acabam por tomar o aspecto curiosamente irritante de chamariz para a vida interior, de laços aos quais a meditação submete seu frágil pescoço com o risco de se estrangular, de espelhos para as cotovias da alma. Pode-se pintar do universo uma imagem bem diferente da imagem feita por esse impressionismo patético; entretanto, não é menos verdadeiro que a autora de As ondas soube preservar, sob a vaga multiforme, angustiante e leve das sensações que passam, uma nitidez límpida que é o equivalente formal da serenidade. Assim, os rios recolhem das coisas uma imagem totalmente superficial e perpetuamente fugidia, que não perturba em nada a transparência de suas profundezas nem a música de seu lento fluir em direção ao mar. "O olho não é um mineiro", diz Virginia Woolf, "assim como também não é um mergulhador nem procura tesouros escondidos. O olho flutua molemente ao sabor da corrente do rio." Poderíamos classificar os poetas levando-se em conta as qualidades do olhar, e perceberíamos então que a definição de Virginia Woolf aplica-se sobretudo a ela só. O olho incansável de Balzac busca tesouros escondidos. E poderíamos mencionar também o grande olho-espelho de Goethe, evocar sem irreverência o farol às vezes cego que foi o olho de Hugo, e comparar os belos olhos de Rilke, Novalis ou Keats ao olhar mágico e trêmulo dos astros. Em Virginia Woolf assistimos a um fenômeno muito diferente, e talvez mais raro: o próprio olho, tão natural quanto uma corola, dilatando-se e retraindo-se alternadamente como um coração. E quando penso ao mesmo tempo no martírio que é o trabalho da criação para todo grande artista, e na quantidade fantástica de imagens novas que a literatura inglesa deve a Virginia Woolf, não posso me impedir de pensar em santa Luzia de Siracusa, ofertando seus dois olhos admiráveis aos cegos de sua ilha natal.
Marguerite Yourcenar em Peregrina e Estrangeira
0 notes
Text
Colônia de Férias Netflix: 10 filmes para ver com os filhos
Momentos de lazer entre pais e filhos são superimportantes para o desenvolvimento das crianças. Mas, como nem sempre é possível sair de casa em busca de programas divertidos, a Revista Bula analisou o catálogo da Netflix e reuniu em uma lista dez ótimos longas para assistir com toda a família, sem ter que se preocupar com diálogos inapropriados e cenas inconvenientes. Os títulos selecionados agradam crianças e adultos e trazem boas lições sobre amizade, amadurecimento, convivência e solidariedade. Entre eles, destacam-se “Jack e a Mecânica do Coração” (2013), de Mathias Malzieu e Stéphane Berla; e “Benji” (2018), dirigido por Brandon Camp. Os títulos estão organizados de acordo com o ano de lançamento.
O Bom Sam (2019), Kate Melville
Kate Bradley é uma famosa repórter de Nova York, conhecida por sempre cobrir notícias de tragédia. Mas, quando um misterioso bom samaritano, mais conhecido como “Good Sam”, começa a distribuir dinheiro para pessoas aleatórias, ela fica responsável por descobrir sua identidade. Mesmo desconfiando das boas intenções do samaritano, Kate aceita o desafio, seguindo todas as pistas deixadas por ele.
Benji (2018), Brandon Camp
Remake de um clássico dos anos 1970, o filme conta a história de um cãozinho especialista em ajudar as pessoas. Adotado pelos irmãos Carter e Frankie, Benji é cuidado às escondidas, para que a mãe das crianças não saiba que eles trouxeram um cachorro para casa. Mas, quando os irmãos são sequestrados por bandidos, Benji vai fazer de tudo para ajudar a polícia a encontrá-los.
A Ganha-Pão (2017), Nora Twomey
Parvana é uma garota que vive no Afeganistão governado pelas forças do Talibã. Quando seu pai é preso de maneira injusta, ela, sua mãe e a irmã ficam desamparadas. Mulheres não podem trabalhar no país e ninguém lhes vende comida se estiverem desacompanhadas. Então, Parvana decide se disfarçar de menino para trabalhar e garantir o sustento de sua família. A animação foi adaptada do livro “The Breadwinner”, de Deborah Ellis.
Kubo e as Cordas Mágicas (2016), Travis Knight
Inteligente e bondoso, Kubo é um garoto japonês que passa a maior parte do tempo cuidando de sua mãe viúva. Mas, sua vida se transforma quando, sem querer, ele invoca um espírito vingativo. Agora, para sobreviver, Kuko precisa encontrar a armadura mágica de seu pai, que foi um lendário guerreiro samurai. Nessa jornada, ele conta com a ajuda de seus melhores amigos, Macaco e Besouro.
Annie (2014), Will Gluck
Annie foi abandonada pelos pais ainda bebê e agora vive em um orfanato comandado pela megera senhora Hannigan. Sua vida muda completamente quando Will Stacks, o candidato a prefeito de Nova York, decide ser o seu tutor e a leva para casa. Na verdade, Will foi aconselhado por seus assessores e está usando a garota para melhorar sua imagem como político. Mas, aos poucos, ele desenvolve um amor paternal por Annie.
Jack e a Mecânica do Coração (2013), Mathias Malzieu e Stéphane Berla
No século 19, Jack nasce em um dia tão frio que seu coração congela. Para salvá-lo, a parteira Madeleine substitui o órgão por um relógio. Devido à fragilidade do objeto, Jack vive isolado. Mas, quando completa 10 anos, ele decide que quer conhecer o mundo. Então, sua mãe lhe impõe três regras: não tocar nos ponteiros do relógio, controlar sua raiva e, a mais importante de todas, não se apaixonar nunca.
Você de Novo? (2010), Andy Fickman
Durante o colegial, Marni é atormentada pela líder de torcida Joanna. Anos mais tarde, ela se torna uma mulher confiante e bem-sucedida na carreira. Mas, quando retorna à sua cidade natal para o casamento de seu irmão mais velho, Will, ela descobre que sua futura cunhada é Joanna. Marni percebe que Joanna finge ser uma boa pessoa, enganando Will. Então, ela faz de tudo para impedir que o casamento aconteça.
O Pequeno Nicolau (2009), Laurent Tirard
Nicolau leva uma vida tranquila, sendo amado pela família e se divertindo com os amigos. Um dia, ele escuta uma conversa entre os adultos e começa a acreditar que a mãe está grávida. Nicolau acha que se os pais tiverem um outro filho, ele será abandonado. Então, o garoto convoca os amigos da escola e, juntos, eles criam planos mirabolantes para evitar o nascimento de seu irmãozinho.
Férias de Verão com Coo (2007), Keiichi Hara
O filme conta a história de Koichi, um adolescente solitário que encontra um Kappa (ser aquático do folclore japonês) adormecido há mais de 200 anos. O bichinho, chamado Coo, é adotado por Koichi e sua família, que prometem ajudá-lo a reencontrar outros seres de sua espécie. Mas, de repente, toda a cidade descobre a existência de Coo, que começa a chamar a atenção da imprensa mundial.
E.T. — O Extraterrestre (1982), Steven Spielberg
Um grupo de alienígenas visita secretamente a Terra para recolher amostras de plantas em uma floresta da Califórnia. Ao fugirem, eles acabam deixando um E.T. para trás. O extraterrestre é resgatado pelo garotinho Elliot, que o protege de todas as formas para evitar que ele seja capturado pelo serviço secreto americano. Os dois se tornam amigos e Elliot ajuda E.T. a regressar para o seu planeta.
Colônia de Férias Netflix: 10 filmes para ver com os filhos publicado primeiro em https://www.revistabula.com
0 notes